As primeiras noites na clínica psiquiátrica foram tranquilas. O pessoal demitido ainda desempenhava suas funções e os novos limitavam-se a olhar, a recolher experiência e a reunir-se na farmácia , onde Albertine aparecia de vez em quando (de acordo com a memória liquefeita de Winner ) vestida de branco, onde os dois voltavam a descobrir, emocionados , as emulsões e os barbitúricos. O problema ali era conseguirem ficar a sós por tempo o suficiente. Winner, numa daquelas noites, instalara-se solidamente no escritório do Supervisor, já que percebera que a noite, e não o dia, é que eram reais, e assim decidiu-se, em definitivo, a impor sua autoridade dentro daquele hospício. De fato, a autoridade ali dentro parecia invertida , e realmente era psicologicamente ''invertida'', uma vez que a opressão vinha dos pacientes mais perdidos, como Winner, e não das autoridades do hospital. Albertine escutara atenciosamente o New Deal de Winner. Ele resumira seu manifesto pessoal em termos de higiene,disciplina alimentar , deuspátrialar , tantrismo e pijamas cinzentos, e... chá de tília. Albertine prestou bastante atenção também aos diálogos operacionais entre os membros do ''novo regime''. Albertine, Winner recordava-se vagamente, entre um e outro cigarro, merecia sua confiança,mas quando tentava se lembrar porque, só se lembrava de um navio avançando através do oceano . A moça tinha seu diploma de silêncio interior, o que a obrigava, por vezes, a debater ''cornelianamente'' os deveres e os sentimentos patrióticos, enquanto Winner organizava a nova administração. Experiente, Winner não demorou a começar a substituir os ''engole-espadas '' do primeiro e segundo escalão por autênticos esquizofrênicos com firma reconhecida no cartório, e rações de pasto , opióides e insulina. Winner decretou que o tratamento por eletro-choque tornava-se, a partir daquela noite, um ''rito de passagem '' da ''nova civilização'' que começava a se organizar em torno dele.
K.M.
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