quinta-feira, 11 de maio de 2017
LABIRINTO.
Quando as correspondências finalmente começaram a chegar nos seu novo endereço, Winner simplesmente passou a jogar todas elas fora sem abrir. Um dia, por acaso, não fez isso com uma das cartas, um envelope branco, seu nome e endereço escrito em letras de forma garrafais, traços vacilantes possivelmente feitos com a mão esquerda (pensava Winner ). Ele colocou a carta sobre sua mesa e acendeu um cigarro ----Winner só conseguia escrever ouvindo música, e ligou na Radio Clássicos. Quando ligou seu computador, notou que ele estava agora protegido por uma senha desconhecida, e que alguém andar mexendo nele. Revistou o quarto para ver se faltava mais alguma coisa. As máquinas fotográficas e os micro-drones estavam todos lá. Cannon, Polaroid, Nikon . E tbm relógios caros,cartões de crédito, talões europeus, documentos americanos, nada havia sido tocado. Winner não chegou a ficar preocupado. Rapidamente desbloqueou o computador e abriu o arquivo no qual vinha trabalhando atualmente, um ensaio sobre o mistério do Labirinto. ''É desse modo '', Winner pensava, soprando colunas de fumaça cada vez mais densas na direção do teto ''É desse modo que se constitui o Labirinto. O Palácio de Minos, desde a aurora da história humana e do Estado, confusão de esquinas, avenidas, baixios, guichês, corredores e câmeras, o espaço bloqueado e sem saída do Território ''. O certo é que havia algo naquela carta que perturbava Winner... ''E o Minotauro '' continuava refletindo Winner ''o avesso sacrificial e devorador da transcendência, instala-se decisivamente no coração de todos os Territórios''. No tempo em que Winner costuma abrir sua correspondência todo dia, ele estava no auge da fama literária, e não era raro receber cartas com retratos de mulheres nuas, que sempre o divertiam. Mas o retrato daquela garota não o divertiu tanto assim. Dentro do envelope que não rasgara havia apenas o retrato da Srta. Albertine Rivibelle. Ela não estava nua, e sim vestida, em trajes de inverno europeus. No verso do retrato nada estava escrito. Winner procurou a garrafa de café e, quanto se servia, voltou a pensar no ''guarda da alfândega'', do ensaio que estava escrevendo.
''Ao personagem do alfandegário '', escreveu lentamente Winner ''contrapomos a figura do guia . É o GUIA quem nos faz atravessar as fronteiras em contrabando, sem deixar vestígios ---- ele não cria novos muros com o pretexto de abrir uma porta. É de um guia capaz de fazer a literatura policial passar entre os Castelos Fortificados , os Cercados e Instituições Internas do Território, que precisamos; mas que ele tbm nos faça sair do Labirinto territorial e saltar de um espaço a outro, com autonomia. Dédalo só saiu do Labirinto abrindo um novo espaço ''.
Escreveu Winner.
K.M.
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