quarta-feira, 10 de maio de 2017

Lógica infernal da inflação parasitária.


Que agradável surpresa quando o carro do advogado partiu. Winner anunciou, não muito orgulhoso de ter se deixado persuadir pelo velho : ''Trabalharei no caso''. Porque aquela garota desapareceu no exato instante em que eles chegavam à NY ? Teria ela encontrado alguém conhecido. Winner esforçava- por lembrar e, criticando-se, dizia consigo : ''Bebi tanto que não lembro nem se fui para a cama com ela ou não ''.  Ou na pressa de rever o pai alarmado teria grosseiramente abandonado Winner naquela mesa de jogo no fim da viagem ? ''Quando se entra no Território '', Winner pensava , andando de um lado para o outro do cômodo com um bule de café fumegando na mão ''e quando é preciso atravessar fronteiras dele, constrói-se, imediatamente, uma ALFÂNDEGA. E o guarda aumenta sua guarita, enfeita suas barreiras, complica todos os procedimentos, até fazer de seu posto alfandegário um território a mais, um ''cercado suplementar ''. Será preciso ainda '', continuava pensando Winner, contando os cigarros do maço ''construir outras alfândegas. Encontrar outros intermediários para atravessar o Novo Território. Ao se estabelecer nos portos, canais, eclusas, guichês, o PARASITA  pretende favorecer a CIRCULAÇÃO . Mas só consegue constituir seu próprio território. Serão sempre necessários outros intermediários : lógica infernal da inflação parasitária ''. 

No dia seguinte, quando Winner desceu do táxi, sob uma chuva fina que tornava monótona toda a paisagem da cidade,  ele encontrou uma certa atração em caminhar à esmo .  Nessas ocasiões, a cada vez que Winner acendia um cigarro no meio da rua, um risinho amigável e íntimo provocava um incrível resultado no seu pensamento. Ele riu, achando que já devia ter ido falar pessoalmente com o velho Napoleon Rivibelle, embora seu procurador não tenha mencionado nenhum encontro. Novo embaraço, quando entrou na Quinta Avenida e procurou o edifício do pai de Albertine. Um porteiro precipitou-se em sua direção.

''Quero  falar com o Sr. Rivibelle. '' , Winner disse.

''Um momento, por favor ''.

''É capaz de me informar se o Dr. Lawrence está com ele ? ''.

''Ninguém procurou Mr. Rivibelle durante a manhã ''.

''Ele está à vontade em casa ?'', questionou Winner.

''He he... vou perguntar à empregada deles '', respondeu o porteiro.

E falando ao aparelho :

''Alô! Mr. Bruce Winner. Bem.. um momento '' , resmungou o porteiro , e disse:

''O Sr. Rivibelle disse que só recebe com hora marcada''. Se quiser escrever e deixar seu contato, ele certamente responderá'', disse o porteiro.

''Não brinca ? '', assustou-se Winner. ''Tenha a bondade de dizer ao Sr. Napoleon Rivibelle que sou eu o homem que chegou da Europa para me encontrar com ele. Ora... que tenho coisas da mais alta urgência para tratar com ele '', resumiu Winner, consternado.

''Sinto muito '', disse o porteiro, secamente. ''Não me perdoariam se o incomodasse de novo. Mas se quiser escreva o bilhete.  Eu mesmo entregarei para a empregada deles ''.

Winner estava furioso. Mais consigo mesmo do que com o Sr. Rivibelle ou aquele porteiro. Ele olhava atacado por certa vertigem à sua volta, sem entender. Em conjunto e antecipadamente, tudo o que o rodeava na recepção daquele edifício. Os vestíbulos carregados de dourados, os lustres e acabamentos dos elevadores, os funcionários que o fixavam com ironia, as belas mulheres que iam e vinham , os homens seguros de si que, dentro de seus ternos, se empurravam uns aos outros sem se dignarem pedirem-se desculpas.

Winner escreveu no bilhete :

 ''Senhor Rivibelle,

Fui encarregado de uma missão muito importante. Primeiro, vagamente, pela sua própria filha, de quem estou à procura desde que desci daquele navio.  E segundo, pelo seu procurador, o Dr. Lawrence. Uma vez que meu tempo é tão precioso quanto o seu, agradeceria se me recebesse imediatamente.

Saudações,

B. Winner

K.M.

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