segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O fantasmagórico monte Shasta à distância..

De San Francisco a Portland (1.123 quilômetros) ; noite em Richmond  , Califórnia, jogado numa cadeira, buscando justificar a obra de arte para assim salvar os longos fios do tempo um a um . Eu tinha vivido tão bem ''de qualquer modo'' que fiz recuar o verossímil otimismo pequeno burguês ---- entrei num mundo mais escuro, mas menos insípido . Foi justamente quando minha paixão por ela flambou minhas impurezas diárias , mas só comecei a duvidar da ''salvação'' pela arte quando subi pelo lago Shasta passando por Buckhorn e as montanhas Hatchet , uma passagem espetacular do Nordeste, com muitas árvores e neves . A arte me parecia bem vã ao lado da pureza cruel do mundo natural , da natureza perfeita e cruel . O fantasmagórico monte Shasta à distância... lagos nas montanhas ; o céu azul altaneiros dos ares de montanha.  Lamoine... barrancos ao lado da ferrovia; espaços abertos ; florestas e montanhas até Dunsmuir ---- cidadezinha madeireira com estação ferroviária nas montanhas (Shasta nas nuvens da encosta, no vagar dos fantasmas na neve ) Como os espectros ali se exibem em pleno dia azul , lá em cima ... O grande albergue diante de espaços vazios ao norte e dos trens cargueiros cheios de carvão. Hóspedes nos hotéis. Pinheiros das montanhas. Sentia que não podia decifrar o sentido completo daquilo a não ser me colocando no futuro e esboçando com os olhos um futuro aparentemente vago e ininteligível ---- mas um futuro que (apesar de tudo ) enchia de significado  todo meu presente. Toda aquela ''vida''  naturalmente era projetada ante meus olhos de um modo ''não -temático '' e era objeto daquilo que Heidegger chamava de ''compreensão pré-ontológica'' . A maior parte do tempo o que via mesmo era a energia psíquica em estado puro .

K.M.

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