quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Anfitrião.

O enfraquecimento da vaidade de alguém (no entanto) é a última rallerie que um anfitrião como eu desejaria causar entre os poderosos egos de seus convidados ricos, célebres e poderosos ------ e nem é preciso muita sabedoria para se ter consciência disso . Assim, fiz questão de visitar todas as mesas em ambos os Saraus ( o Geopolítico e o Econômico) . Fui de mesa em mesa e, por sua vez, fui saudado em cada uma delas com o tipo de ovação que emerge das gargantas ressecadas de pessoas que haviam estado inclinadas demais a supor que , independentemente do que tivessem sofrido para obter um convite, o esforço fora absurdo . Por alguns minutos, chegaram mesmo a pensar que seriam completamente ignoradas por mim. Que alívio, então ,e que aplauso entusiasmado ao verem que eu me aproximava de suas mesas cortêsmente.  Não descreverei a refeição, pois não creio que haja um particular prazer para leitora inteirar-se da baixela de ouro, dos pratos franceses, as várias categorias de caviar , os vinhos (da França e da Itália ), o champanhe , etc.. Os banquetes mais sofisticados quase sempre conseguem gerar os mesmos ácidos gástricos, mas, naquele caso em especial , os convidados foram servidos pessoalmente por quatro garçons de casaca vermelha com debrum de ouro . Os cardápios eram ilustrados, e a banda tocou durante todo o tempo do jantar , enquanto meu Palácio azul cintilava .   Naquela noite, os jornalistas foram proibidos a falarem mal dos grandes e poderosos, e mesmo de falar qualquer coisa sobre eles. O Palácio azul era, afinal, famoso pela raridade de suas celebrações coletivas. Somente os eventos mais importantes da história tinham o poder de abrir portas tão antigas. Um dos repórteres americanos, obviamente enfeitiçado pelo acontecimento , concluiu uma de suas matérias dizendo : ''Assim começou e terminou o maior dia da minha carreira, a ser lembrado durante anos . Todos nós sentimos que havíamos visto o maior espetáculo que poderia ser imaginado e que éramos meros mortais diante do que vimos, mas mortais de muita sorte por termos visto .Tudo decorrera de forma tão bela (!) ''. Outro repórter americano declarou ainda que acreditava agora não somente no imenso potencial de Mr . K. para a grandeza , mas também na legitimidade de todas as suas ações. Escreveu ele : ''A Associação Teuto-Americana , a organização mais abrangente entre as que lideram a intervenção militar, manteve seu apoio à Ele , e Mr. K. continuou sendo entre todos o mais popular defensor de  suas idéias e ações . Para muitos membros da Associação Teuto-Americana, não havia como refutar (nem mesmo com base nos fatos) a idéia recentemente defendida por Mr. K.  em seus hebdomadários semanais, de que ''o maior perigo '' que os judeus representavam para a América era serem eles ''proprietários e forças influentes nas esferas do cinema , da imprensa e da economia globalizada. Quando Mr. K. escreve, com orgulho , a respeito do 'legado de sangue europeu '' de ''uma parte da sociedade americana', e quando alerta para a ''diluição causada por raças estrangeiras '  e a ''infiltração de sangue inferior' (expressões facilmente encontradas em trechos de seus hebdomadários ) ele está registrando convicções pessoais compartilhadas alegremente com parte considerável da Associação Teuto- Americana, e também com um grupo ainda mais radical  ----- maior até do que se imaginava a princípio ----- que florescia anonimamente por todos os Estados Unidos. 

K.M.

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