O universo é um livro, diz a sabedoria: todo livro contém o universo. É preciso recordar que o traço negro de cada palavra se torna inteligível no livro graças ao branco da página. Esse branco de que a palavra brota e em que acaba por desaparecer o Silencio Primordial. Princípio e fim de cada criatura, de todo o criado, o branco escreve para nós o fundamental de toda escritura: o círculo de mistério que envolve nossa existencia. A qualidade de qualquer escritura depende da medida em que tramite o mistério, esse silencio que não é ela. Seu esplendor é enriquecedora abdicação de si. E essa resulta evidente no tipo de leitura que permite e exige. A palavra portadora de mistério demanda uma leitura lenta, que se interrompe para meditar, tratar de absorver o incomensurável: pede releitura, consideração do branco.
H. A. Mureña
Nenhum comentário:
Postar um comentário