sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

...a conversa comigo era derivada de Prometeu... com pretensões inglesas

Eu estava tentando fazer com o hipnotismo e a telepatia o que Malthus, Adam Smith, John Stuart Mill e Durkheim haviam feito com população, riqueza e divisão do trabalho. História pessoal e índole me haviam colocado numa posição peculiar, de ladrão do Fogo sagrado, que eu transformara em vantagem: olhos de mulheres, animais de poder, super-heróis, máquinas poéticas, pássaros e incrustrações políticas; a conversa comigo era derivada de Prometeu... com pretensões inglesas, auf dem Wasser: liberdade de entrada de navios, liberdade de saída, liberdade de compra e venda ----- não fôra à toa que eu lera grandes especialistas como Stendhal, Kierkgaard e Baudelaire; eram os únicos membros do corps diplomatique que tinham algum interesse em literatura telepática. Falava-se sobre Shakespeare , Milton, Virgílio, do Abade Delile e dos poderes da mente iniciática. ----- Depois da paz de * (indaguei da platéia) aonde mais eu poderia ir a não ser para a Espanha? ---, e imediatamente ela sugeriu a Grécia, pois ''na mente dela, eu sempre deveria estar indo''. ------ Teu novo exílio na Grécia traduzirá princípio e fim, sigla de tua própria sorte (.) ---, disse ela: eu já estava informado que as duas imperatrizes voltariam para Atenas ao meu sinal, pelo menos em caso de guerras telepáticas ''un peu interessantes''; todos afinal queríamos saber de antemão como poderíamos receber nossas apólices dos Estados Unidos enquanto estivéssemos na Espanha, uma guerra telepática entre os dois países. Em Cádiz, o povo percebia que a nobreza havia fornecido um Espírito Olímpico para o exército, e Atenas não me era estranha. André Malraux havia escrito que no fundo de qualquer ocidental repousa a Grécia. Dai-me uma fábula grega, e eu recriarei o mundo! Haverá nesta terra algo maior que a mitologia para incendiar a mente de um poeta? O famoso mas incompreendido Dr. Rudolf Steiner também tinha muito a nos dizer a respeito da mente humana. Os livros dele, que eu começara a ler deitado no navio, me fizeram querer ficar de pé para repensar as estratégias e manobras de percepção da batalha em curso. Paixão singular, a mais livre e ao mesmo tempo metódica e mágica, princípio de uma busca do Abstrato e de uma efusão iniciática na cultura mundial, e união dos dois num estado telepático supremo, o outro estado, autopoiético, cuja verdade, inicialmente inacessível à paixão privilegiada do artista, finalmente se encontra estendida à comunidade universal através do Verbo. Seria falso apresentar tudo isso como um resquício romântico: eu argumentava apenas que entre a concepção de um ato e sua realização pela vontade, caía-se numa camada de telepatia, breve mas profunda; porque uma das camadas da alma humana era feita de energia telepática, e ninguém alcançava a iniciação real sem ativá-la. Isso me causava uma profunda impressão: pensava que, consequentemente, a verdade total acerca da telepatia podia ser percebida e desvelada ao mundo somente segundo a perspectiva de um espírito olímpico e imortal, e nunca duvidei de que fosse portador de um tal espírito, o do iniciado no qual desperta o movimento impessoal do conhecimento silencioso, dos grandes arquétipos eternos, a força pura da consciência ampliada ------ e via diretamente a dança das energias da Criação, o que era surpreendente mas necessário, pois o sentido deste movimento operava ora como uma indeterminação soberana da razão, ora como o vazio indeterminado da bolha de energia, revertido em plenitude pela experiência iniciática. Eu chegara a todas essas conclusões cedo de mais na vida e assim, a recusa de viver com os outros e comigo mesmo em relações demasiadamente determinadas, particulares ----- fonte da imobilidade atraente que é a magia do iniciado ----- dava lugar a esta dupla versão do homem moderno: capaz da mais alta exatidão linguística e da mais extrema dissolução xamânica, pronto a satisfazer a sua recusa das formas congeladas tanto pela troca indefinida das formulações teóricas e matemáticas, quanto pela busca do informe e do informulado da iniciação. Durante a viagem para a Grécia, procurei refazer a imagem deste país que o mundo vendia, a da Grécia antojada através de manuais de história e dos poetas parnasianos (brasileiros ou franceses), cercada pelo academicismo e fora da experiência do século; pouco antes de chegar a releitura de alguns trechos dos pré-socráticos devolveu-me poderosos fios de contato com os mitologemas gregos, sobressaindo uma leitura apressada do texto ''Eupalinos ou l´architecte'', de Paul Valéry. Para mim restava nítido que se todos removessem a película mais interna de suas glândulas pineais e subissem à consciência mais aguda de si e do mundo, mais telepatia seria solicitada, talvez até pelo próprio corpo, e mais compreendido seria meu Verbo e sua Fonte.

K.M.

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