segunda-feira, 3 de abril de 2017
''A Idade de Ouro do Capitalismo ''
''Não há dúvida de que o quarto de século que se seguiu à reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial foi um período de prosperidade e expansão sem precedentes para a economia mundial. Entre 1950 e 1975, a renda per capita nos países em desenvolvimento teve um aumento médio de 3% ao ano , acelerando-se de 2% na década de 1950 para 3,4% na seguinte. Essa taxa de crescimento, historicamente sem precedentes nesses países , ultrapassou a que fora alcançada pelos países desenvolvidos em sua fase de industrialização (...) Nos próprios países desenvolvidos (...) o PIB e o PIB per capita cresceram quase duas vezes mais depressa do que em qualquer período anterior, desde 1820 . A produtividade do trabalho aumentou duas vezes mais depressa do que em qualquer época e houve uma aceleração extraordinária na taxa de crescimento do estoque de capital . O aumento desse estoque representou uma explosão de investimentos, de duração e vigor sem precedentes históricos '' (Glyn ). Não há dúvida de que nesse período o ritmo de expansão da economia mundial capitalista como um todo foi excepcional, segundo padrões históricos. Se foi tbm a melhor de todas as épocas para o capitalismo histórico, de modo a justificar sua denominação de ''A Idade de Ouro do Capitalismo '', é uma outra questão. Não está exatamente claro ainda (creia-me) que esta tenha sido uma era mais dourada do que a ''Era do Capital'' de Hobsbaw, , que os observadores do fim do século XIX julgaram não ter precedentes desde a ERa dos Grandes Descobrimentos. Se tomarmos as taxas médias anuais de crescimento do PIB, ou dessa entidade reptiliana e fugidia a que se chama ''estoque de capital '', no período de 25 anos entre 1950-1975, e as compararmos com o período de cinquenta anos 1820-1870, como fizeram Andrew Glyn e seus colaboradores, a resposta parecerá afirmativa. Mas esses indicadores são tendenciosamente favoráveis à produção, num sentido estrito ,e contrários ao comércio. Se escolhermos indicadores que fortaleçam uma tendência oposta e compararmos o período de 1950-75 com outro igual de duração, 1848-73, veremos que os desempenhos nas duas ''Eras Douradas'' não parecem ter sido em nada diferentes.
K.M.
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ResponderExcluirSeja como for, pela perspectiva que adotei nas minhas pesquisas, que não constituem nenhum trabalho acabado, as décadas de 1950 e 1960, como as de 1850- e 1860, constituem outra fase de expansão (DM) da economia mundial capitalista ---- ou seja, um período durante o qual o capital excedente foi investido no comércio e na produção de mercadorias, em escala suficientemente maciça para criar as condições de uma cooperação e uma divisão de trabalho renovadas , dentro e entre as distintas organizações governamentais e empresariais da economia mundial capitalista. Sem dúvida, a velocidade, a escala e o alcance da conversão do capital excedente em mercadorias foram maiores no ciclo norte-americano do que em qualquer ciclo anterior. A fase de expansão material das décadas de 1950 e 1960 assemelhou-se a todas as outras num aspecto fundamental : seu próprio desdobramento resultou numa grande intensificação das pressões competitivas sobre toda e qualquer organização governamental e empresarial do mundo capitalista e numa consequente retirada maciça do capital monetário do come´rcio e da produção.
ResponderExcluirK.M.
A mudança ocorreu nos anos cruciais de 1968- 73. Os depósitos no chamado mercado de eurodólares ou de eurodivisas passaram por uma alta repentina, seguida por vinte anos de crescimento explosivo.
ResponderExcluirK.M.
Sem dúvida. O sistema de paridades fixas entre as principais moedas nacionais e o dólar norte-americano, bem como o dólar norte-americano e o ouro , que tinha vigorado durante toda a fase de expansão material , foi abandonado em favor do sistema de taxas de câmbio flexíveis ou flutuantes ----- um sistema que alguns ,como Aglietta, não consideram ser sequer um sistema, mas a forma assumida pela crise do sistema preexisitente. Essas foram ocorrências distintas, mas mutuamente reforçadoras. Por um lado, a acumulação de uma massa crescente de liquidez mundial, em depósitos que nenhum governo controlava , exerceu uma pressão cada vez maior sobre os governos, , no sentido de que eles manipulassem as taxas de câmbio de suas moedas e as taxas de juros, afim de atrair ou repelir a liquidez mantida nos mercados offshore, para compensar a escassez ou os excessos em suas próprias economias internas . Por outro lado , as alterações contínuas nas taxas de câmbio entre as principais moedas nacionais, bem como dos diferenciais das taxas de juros, multiplicaram as oportunidades de expansão do capital mantido em mercados monetários offshore, através do comércio e da especulação com divisas.
ResponderExcluirK.M.
Como resultado dessas ocorrências mutuamente reforçadoras, em meados da década de 1970 o volume das transações puramente monetárias realizadas nos mercados monetários offshore já ultrapassava em muitas vezes o valor do comércio mundial. A partir daí , tornou-se impossível deter a expansão financeira. Segundo uma estimativa, em 1979, o comércio de divisas atingiu a cifra de U$ 17,5 trilhão ou mais de onze vezes o valor total do comércio mundial ($1, 5 trilhão ) ; cinco anos depois, o comércio de divisas dera um salto para U$ 35 trilhões, ou quase vinte vezes o valor total do comércio mundial , que tbm tivera um aumento, mas de apenas 20 % '' (Gilpin )
ResponderExcluirSegundo outra estimativa, as simples transações anuais no mercado de eurodólares de Londres foram seis vezes maiores que o valor do comércio mundial em 1979, porém umas 25 vezes maiores sete anos depois'' (Walter )
ResponderExcluir''Revolução '' sugeriu Robert Gilpin , '' não seria um termo forte demais para caracterizar essa mudança na situação economica mundial. Andrew Walter não tem nenhuma dúvida de que essa é mesma a caracterização apropriada. Segundo ele : ''O mais impressiona nestas últimas décadas é a liberalização dos fluxos de capital entre os grandes países e o incrível crescimento dos mercados europeus, que atingiu ,e m média, cerca de 30 % anuais desde a década de 1960 . Isso superou de tal maneira o crescimento do comércio e da produção globais que ,hoje em dia, os fluxos financeiros dominam completamente os fluxos reais entre os países, em termos quantitativos.
ResponderExcluirA essa mudança Gilpin deu o nome de ''Revolução Financeira Global ''.
K.M>