quinta-feira, 13 de abril de 2017

A CASA DE MORGAN

''Entrego a minha alma ao seio do meu Salvador '' ----- escreveu John Pierpont Morgan no seu testamento ----- ''plenamente confiante de que, redimida e purificada pelo sacrifício do Seu preciosíssimo sangue, a apresentará imaculada perante Seu pai celestial e sem olhar a sacrifícios pessoais a bendita doutrina da REDENÇÃO completa dos pecados pelo sangue outrora derramado por Jesus Cristo e somente essa'',
e no seio da Casa de Morgan representada por seu filho entregou
quando morreu em Roma em 1913
o CONTROLE dos interesses Morgan em Nova York , Paris e Londres, quatro bancos federais, três companhias monopolistas, três companhias de seguros, dez linhas de caminhos de ferro, três companhias de bondes, uma companhia de correios, a International Mercantile Marine,
poderes,
pelo princípio dos vasos comunicantes através do encadeamento dos conselhos de administração
sobre outras dezoito estradas de ferro, sobre a indústria do aço dos Estados Unidos, sobre a General Eletric, sobre os telégrafos e telefones americanos, sobre cinco grandes indústrias;
os cabos entrelaçados do consórcio Morgan-Stillman-Baker seguravam o crédito como uma ponte suspensa e dispunham de treze por cento dos recursos bancários de todo o mundo.
(.)
O primeiro Morgan a fundar um sindicato financeiro foi Joseph Morgan, dono de um hotel em Hartfort, Connecticut, que organizou carreiras de diligências e comprou as ações da companhia de seguros Aetna quando estas se encontravam de rastos em consequência do pânico causado por um dos grandes incêndios que flagelaram Nova York em 1830;
seu filho Junius seguiu-lhe as pisadas, primeiro no negócio de secos, depois como sócio de George Peabody, banqueiro de Massachusetts, que edificou um enorme empório de seguros e mercantil em Londres, onde se tornou amigo da rainha Vitória;
Junius casou-se com a filha de John Pierpont, pregador de Boston, poeta, excêntrico e abolicionista; e o filho mais velho desse casamento,
John Pierpont Morgan
chegou a Nova York para fazer fortuna
depois de ter sido educado na Inglaterra, de frequentar o liceu de Vevey e de se revelar um extraordinário matemático na Universidade de Gottingen,
um lânguido e indolente jovem de vinte anos
preparado para o pânico de 1857
(guerras, pânico na bolsa, bancarrotas, empréstimos de guerra, eram vento de feição para a Casa de Morgan)
Quando os canhões principiaram a troar no Forte Sumter, o jovem Morgan ganhou bom dinheiro revendendo mosquetes deficientes ao exército dos Estados Unidos e principiou a fazer sentir a sua presença no Salão Dourado do antro de Nova York; havia mais a ganhar no negócio do ouro do que no negócio dos mosquetes; a guerra civil não dava grande lucro.
Durante a guerra franco-prussiana, Junius Morgan colocou no mercado americano os vultosos títulos da dívida pública externa emitidos pelo Governo Francês de Tours.
Ao mesmo tempo, o jovem Morgan batia-se contra Jay Cooke e contra os banqueiros judeus-alemães de Frankfurt que tentavam consolidar a dívida de guerra americana (nunca havia gostado nem de alemães nem de judeus).
O pânico de 1873 arruinou JayCooker efez de J. Pierpont Morgan o croupier-chefe de Wall Street; associou-se com o Philadelphia Drexels e construiu o Edifício Drexel, onde durante trinta anos se entronizou no seu gabinete cheio de espelhos; aí, rubicundo e insolente, escrevia sentado à mesa, fumando grandes charutos negros; quando estavam em jogo paradas importantes, escondia-se noutro gabinete, mais íntimo, a fazer jogo de paciências; era famoso pela sua economia de palavras: SIM ou NÃO, e pela sua maneira de soprar o fumo do charuto para a cara do visitante e pelo seu gesto especial do braço, como a perguntar:
----- E eu que ganho com isso(?) -----,
Em 1877, Junius Morgan aposentou-se; J. Pierpont fez-se eleger para o conselho de administração do New York Central Railroad e lançou ao mar o primeiro ''Corsair''. Apreciava os esportes náuticos e de que as atrizes novas lindas maravilhosas o tratasem por ''comodoro''.
Fundou a maternidade de Stuyvesant Square e gostava de frequentar a igreja de Saint-George e de cantar sozinho na calma vespertina, um hino religioso.
No pânico 1893
com proveito pessoal não despiciendo
Morgan salvou as finanças dos Estados Unidos; o ouro escoava-se, o país estava arruinado, os agricultores reclamavam o padrão-prata, Grover Cleveland e o seu gabinete andavam de um lado para o outro no Salão Azul da Casa Branca sem conseguirem chegar a uma conclusão, no Cogresso faziam-se discursos enquanto as reservas de ouro continuavam a derreter; os pobres morriam de fome; o exército de Coxey marchava sobre Washington; Grover Cleveland hesitou muito antes de convocar o representante da alta finança de Wall Street; Morgan, sentado nos seus aposentos do Hotel Arlington, fumava charutos e fazia calmamente suas paciências e palavras cruzadas quando o presidente o mandou chamar;
tinha um plano já preparado para deter a hemorragia do ouro.
(.)
Depois disso, o que Morgan dizia era lei; quando Carnegie se retirou dos negócios, Morgan edificou o Monopólio do Aço.
J.Pierpont Morgan era um homem de pescoço taurino, irascível, com pequeninos olhos de pega e uma excrescência horrível no nariz; deixava os colaboradores matarem-se de trabalhar nas tarefas bancárias rotineiras e ficava sentado no seu gabinete a fumar charutos pretos; quando via qualquer coisa a decidir dizia SIM ou NÃO ou limitava-se a voltar as costas e a prosseguir nas palavras cruzadas.
No Natal, o seu bibliotecário lia-lhe invariavelmente A Christmas Carol, de Charles Dickens, pelo manuscrito original.
Adorava canários e cães pequeneses e gostava de levar jovens atrizes a passear de iate. Cada novo Corsair era mais rico que o anterior.
Quando jantava com o rei Eduardo sentava-se à direita de Sua Majestade; almoçou em tête-a-tête com o Kaiser; gostava de conversar com cardeais ou com o papa e nunca perdia uma conferência de bispos episcopais;
Roma era a sua cidade favorita.
Apreciava a boa cozinha e os vinhos velhos e as mulheres bonitas e navegar no seu iate e de vez en quando percorria as suas coleções, erguia entre os dedos um boceta de rapé cravejada de jóias e examinava-a com seus olhos de prega.
Organizou uma coleção de autógrafos dos reis da França, possuía arcas de vidros cheias de tabuinhas da Babilônia, selos, sinetes, estatuetas, bustos,
Bronzes galo-romanos
Jóias merovíngias, miniaturas, relógios, tapeçarias, porcelanas, inscrições cuneiformes, quadros de todos os velhos mestres, holandeses, italianos, flamengos e espanhóis
manuscritos dos Evangelhos e do Apocalipse
uma coleção das obras de Jean Jacques-Rousseau,
e cartas de Plínio, o Moço.
Os seus agentes compravam tudo o que fosse caro ou raro ou possuísse a marca de um passado imperial e, depois de examinar a nova aquisição com seus olhinhos de pega, a preciosidade era guardada numa urna de vidro.
No último ano da sua vida subiu o Nilo num dahabeeyah e contemplou demoradamente as grandes colunas do templo de Karnak.
O pânico de 1907 e a morte de Harriman, o seu grande adversário nos negócios ferroviários, em 1909, deixaram-no como senhor indiscutível de Wall Street, sem dúvida o mais rico e poderoso cidadão privado de todo o mundo;
velho e fatigado da púrpura imperial, sofrendo de gota, dignou-se a ir a Washingnton responder aos quesitos da Comissão Pujo, encarregada de investigar as operações financeiras dos grandes monopólios: ''Sim, fiz o que me pareceu corresponder aos mais altos interesses do país''.
O seu imperio estava tão bem organizado que ao morrer, em 1913, não houve praticamente qualquer alvoroço nas transações mundiais; a púrpura imperial foi assentar sobre os ombros de seu filho J. P. Morgan
educado em Groton e Harvard e no convívio com as classes dirigentes britânicas
para se tornar um monarca mais constitucional: '''J.P. Morgan sugere...
Em 1917, os Aliados deviam um bilhão e novecentos milhões de dólares à Casa de Morgan; atravessamos o mar para defender a democracia e a bandeira;
e no final da Conferência da Paz a frase ''J.P. Morgan sugere'' tinha poder vinculativo sobre um império de setenta e quatro bilhões de dólares.
J.P.Morgan foi um homem silencioso, nem um pouco dado a declarações públicas, mas durante a grande greve do aço escreveu a Gary:
''Cordeais felicitações pela sua defesa do princípio da absoluta liberdade de admissão e de despedimento direto de pessoal , com a qual estou, como sabe, absolutamente de acordo. Acho que neste caso se encontram em jogo princípios essenciais das liberdades americanas e, se nos mantivermos firmes, havemos de ganhar'' (J.P.Morgan)
(Guerras e pânico na Bolsa,
tiroteio e incêndios,
bancarrotas, empréstimos de guerra,
fome, parasitas, cólera e tifo:
adubaram o crescimento da Casa de Morgan.

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