quarta-feira, 12 de abril de 2017

As cores carregam em si sinais associativos e simbólicos.

Quando dizemos que todas as obras humanas são combinatórias, isso significa simplesmente que todas são arte-fatos compostos a partir de uma seleção e uma combinação de elementos preexistentes. Sabemos como é problemática a questão da criação divina ou astrofísica ''a partir do nada '' (ex nihilo ). É uma opção que não está aberta aos humanos. Certas combinações podem ser originais e terem sido rearranjadas de forma rigorosamente inédita.. A junção do dissimilar e a geração do andrógino podem assumir e multiplicar infinitos disfarces. Mesmo no mais revolucionário dos projetos gráficos ou das combinações cromáticas e mesmo a recorrência sistêmica a novos tipos e tintas nunca poderão evitar o uso de material já existente, em si mesmo circunscrito pelas limitações de nossos nervos óticos. A mais avançada das composições musicais e a mais emancipada das atonalidades devem sempre incorporar sons anteriores, que tbm  são limitados por nossos meios de recepção acústica. Certas novidades instrumentais ---- a tinta acrílica, o tubo de neon , o saxofone em sua fase áurea, a música eletrônica hoje em dia ----- costumam distrair nossa atenção  dessa verdade fundamental.O que tais novidades conseguem renovar é só o velho re-combinado, diversamente híbrido.O que exploram e geram metamorficamente são materiais brutos, por sua própria natureza quase que constrangedoramente limitados, para a espectroscopia, por assim dizer , de nosso organização fisiológica. Até onde sabemos, a evolução nem completou nem aperfeiçoou nosso alcance sensível . A realidade sempre se manteve disponível para a percepção. As cores carregam em si sinais associativos e simbólicos. Os campos semióticos do  branco e do preto parecem muitas vezes comportar valores,discriminações e hierarquias emblemáticas que ''podem'' alcançar os últimos recessos da mente humana. Quando o judeu ortodoxo adota o branco para seu luto e o anarquista, o negro para suas esperanças, ambos estão desenvolvendo contra-alegorias que contrariam a norma unânime. A oposição entre o vermelho e o verde parece abranger zonas de reconhecimento  tão instintivas e provavelmente pré-conscientes ----- o vermelho proíbe, o verde autoriza ----- quanto convenções histórico-culturais. A lógica lunática  pela qual a GuardaVermelha em Beijing lutou para inverter todas as luzes do tráfego, tornando o vermelho a cor que sinaliza o movimento triunfal , para a frente , foi um fracasso. Na mariolatria cristã , o azul representa uma benção litúrgica e alegórica específica. Há tradições nas quais o amarelo, graças às suas sugestões solares, é reservado para celebrar tudo que for imperial. 

K.M.

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