quinta-feira, 2 de março de 2017

A noite nas Bitterroots (rio Coeur d ´Alene, até Cataldo )

Há mais do que uma simples conexão poética entre o ''espírito do Susquehanna '' e uma tarde de vagabundagem em Hood River . Claro que há, mas vamos para Idaho... nosso dever para com os vivos e a circulação sanguínea da terra, o fluxo vermelho amargo fervendo através da terra. O pecado é a nossa veste no mundo desde que Eva mordeu a maçã . E o direito da reflexão presente não se estende além da consciência captada presentemente --- quase dormia ao passar por Coeur D´ Alene (ah, bem ) escrevendo isso ---- mas não importa (!) Vi os lagos e as montanhas enquanto a reflexão modificava minha consciência espontânea . Coeur D ´Alene , como Spokane , fica numa área plana  (eu pensava no pecado como pensava nas roupas que usávamos diante do mundo, na circunspecção necessária em que estávamos submersos no mundo dos objetos , vestidos de valores , unidades de pensamento , qualidades atrativas e repulsivas ---- mas o meu Eu (Moi ) havia decididamente desaparecido por uma ou duas horas enquanto eu subia a serra rente ao lago nevado : foi quando assomei , pelo tempo que me foi possível fixar aquela luz, a grande atitude da consciência desperta. O passo Fourth of July , e a neve impressionante nas ladeiras íngremes , haviam dissolvido na noite nevada o caos cheio de objetos e nomes do meu Ego. Meu único pensamento, naquele instante, era o de que antigamente o índios tinham Coeur DÁlene toda para eles. A noite nas Bitterroots (rio Coeur d ´Alene, até Cataldo) . ANÉANTI , não havia lugar para o pensamento racional naquele nível , e aquilo não era produto do azar , da fadiga ou de uma falta de atenção momentânea, e sim da estrutura mesma da consciência. A certeza de que o pensamento meditativo provinha de que nele se alcançava instantaneamente a consciência sem facetas , sem perfis, inteiramente sem cortes e jogos scripts ( sem os '' abschattungen '' ) ; os objetos se entregavam à ela através de uma infinidade de aspectos, no fundo dos quais surgiam depois como a unidade ideal da multiplicidade. Às vezes eu deitava de lado no escuro ,  ouvindo a terra que agora era meu sangue e minha carne, e pensava : ''Porque Eu (??)'' , e então pensava sobre meu nome até que depois de um tempo pudesse ver a palavra como forma , um vaso, uma garrafa, um lápis, e eu as via virarem líquido e fluírem como melaço frio fluindo na escuridão para o vaso , até que o vaso e a garrafa ficavam cheios e sem movimento : uma forma com significado e profundamente sem vida como o batente vazio de uma porta de repente brilhava como se estivesse vivo ; e então eu percebia que esquecera completamente meu próprio nome , enquanto os ''significados do mundo '', e as ''verdades eternas '', só conseguiam afirmar sua transcendência real na medida em que se tornavam tão independentes do tempo quanto eu e minha consciência iluminada . A consciência do mundo, ao contrário , encontrava-se rigorosamente engessada na ''duração '' .. toda aquela alegre vida do norte na qual eu pensava então (como no Maine, com aqueles crepúsculos vermelhos congelantes ) só devia existir fora do tempo , numa eternidade de neve e fumaça, como as cozinhas de Idaho. Ou então como em Wallace.. fora daquelas minas enormes . Ou Mullan, no coração das grandes encostas íngremes . Sempre seguindo a eternidade dos leitos dos rios e escrevendo como quem mói o próprio café . ---- Descartes passando do Cogito para a idéia da substância pensante, como um rio que deságua no mar (.) ----- , murmurei comigo mesmo . Passar a noite naquele quarto foi como cantar debaixo d´água. Durante toda aquela noite lutei contra a Teoria da presença material do Eu (Moi ) , e saí vitorioso. Acordei para a enormidade da Luz observando pela janela do quarto pessoas ajudando umas às outras a retirar a neve das calçadas . Então vi e ouvi o segredo das Bitteroots (do passo até Deborgia, Montana , e depois Frenchtown e Missoula, seguindo o leito do rio Bitterrot ).

K.M.

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