quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

''O QUE É ESSA COISA QUE É '' (?)

A arte não é mais , para o homem moderno , a aparição concreta do divino, que deixa a alma  capturada pelo êxtase ou o temor sagrado (Ah não !) , mas uma ocasião para colocar em movimento seu gosto crítico , aquele juízo sobre a arte que , se não tem para nós verdadeiramente, de algum modo , mais valor que a arte mesma, responde porém a uma necessidade pelo menos igualmente essencial ; é inclusive bastante provável que essa misteriosa variedade de reflexo condicionado ,com sua pergunta sobre o ''ser '' ou ''não  ser'' da arte , não seja senão um aspecto de uma atitude muito mais geral que o homem ocidental, desde seu exórdio grego , adotou quase constantemente frente ao mundo que o circundava, perguntando-se a cada vez ''O QUE É ESSA COISA QUE É '' (?) , procurando distingui-la por aquilo que ela não é. 

Depois de Kant e Nietzsche, a cada vez que o juízo estético tenta determinar o que é o BELO , ele tem nas mãos não o belo em si, mas sua SOMBRA , como se o seu verdadeiro objeto fosse não tanto aquilo que a arte é , mas aquilo que ela não é... não exatamente como uma coisa fria (como dizia Griffith : ''Ora, não se pode movê-la ?) Ut delectet , nem lendo grego m segredo. Livre inclusive da presunção colossal de Hegel. Mas como Erlebniz, vivência...

Semelhante (poderia continuar, mas não vou porque já é tarde) a uma complexa e e articulada teologia negativa, buscando onde quer que seja contornar o incontornável , envolvendo-nos em nossa própria sombra , com um procedimento que recorda o ''ISSO NÃO , ISSO NÃO '', dos Vedas ; e, presos nessa laboriosa edificação do NADA, não nos damos mais conta de que a arte se tornou (nesse ínterim ) , um planeta que volta para nós apenas sua face obscura, e que o juízo estético não é propriamente senão o LOGOS , a reunião da ARTE e sua SOMBRA . E é justamente essa arte, digamos , uma pura sombra , que reina como valor supremo sobre o horizonte da Terra Aesthetica ; e é muito provável que não possamos sair desse horizonte até que tenhamos nos interrogado sobre o fundamento de todo juízo estético.

K.M.


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