quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Canhões dissimulados sob flores

Seria o Kalachakra Hotel (?) Não me lembro mais; de qualquer forma, era na Avenida Rio Branco, às nove horas, sob o sol da manhã, e eu estava hospedado no Hilton... era uma fronteira e havia ainda, na minha mente, todo um drama literário que subsequentemente inundou Juiz de Fora com as tonalidades de Nova York. As estrelas do palco flanavam para dentro e para fora de minhas pálpebras fechadas: Barbara, Berman, Melissa, Betty... algumas de vestidos compridos, outros decotados; depois, algumas lembranças mórbidas na West 9 th, outras defumadas como presunto de parma; algumas desafiadoras, muitas picantes, mas todas igualmente posando, gesticulando, declamando , todas tentando jogar a outra para fora do palco, como uma míríade de vozes e eus que devia ser controlada a qualquer custo. Penso no trabalho de recapitulação tolteca de Carlos Castaneda; no minuto liberado do tempo de Proust; na 'ruptura de nível da consciência. Vou até a janela do quarto e vejo o footing na avenida lá embaixo lagarteando até a Rua Halfeld: os fundadores da cidade são alemães e a música, naturalmente, é muito obedecida em Juiz de Fora. Eu mesmo aprendi a tocar piano aqui, pianino, de ouvido: nesta parte do mapa um exército de pianistas e subpianistas (como eu), meninos e meninas, adolescentes machucando-se os dedos, deformam nosso Chopin há mais de 100 anos, na tentativa de suprimir o tempo: instruído na leitura das ''Mazurcas'', posso afirmar : ----- São canhões dissimulados sob flores (.) ------, e pela geometria dos ''Estudos'', a previsão óbvia de Debussy, Ravel, Bartók.  O loplop instalou-se para sempre nos meus dedos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário