Kant colocou o problema do fundamento do juízo estético como forma de buscar uma solução para a ''Antinomia do gosto'' na segunda seção de sua Crítica do Juízo: O juízo estético se funda em conceitos ou o juízo estético não se funda em conceitos ?? Kant acreditou poder resolver tal antinomia colocando como fundamento do juízo estético algo que tivesse o caráter de um conceito , mas que , não sendo de modo algum determinável , não pudesse fornecer então a prova do juízo mesmo. Portanto : um conceito com o qual não se conhece nada .Provavelmente o filósofo se deu conta de que essa fundamentação do juízo estético , através de uma idéia indeterminada, assemelhava-se mais a uma intuição mística do que à posição de um sólido fundamento racional, e que ''as fontes do juízo permaneciam, assim , ''um mistério dentro de outro mistério'' . Isso certamente o levou a opor o ''gosto'' ---- como faculdade que julga ---- ao ''Gênio'' ---- como faculdade que produz ; e, para se conciliar à radical estranheza dos dois princípios, ele devia recorrer à essa idéia mística do substrato supra-sensível que está no fundamento de ambos.
Ora, se percorrermos a imensa quantidade de escritos dos ''lundistes ''* oitocentistas, do mais obscuro ao mais célebre , notamos com estupor que a maior consideração e o espaço mais amplo nunca são reservados aos artistas mais brilhantes, e si aos medíocres e aos ruins . E não era sem um profundo sentimento de vergonha que Marcel Proust lia o que Sainte-Beuve escrevia sobre Baudelaire e Balzac, observando que, se todas as obras do século XIX fossem queimadas, exceto os Lunds , e procurássemos fazer uma idéia da importância dos escritores baseando-nos somente em tais artigos, Stendhal e Flabert nos pareceriam inferiores a Charles de Bernard, a Vinet, a Molé, a Ramond e outros escritores de quinta categoria. Até o hoje a ''Era dos Críticos'' parece dominada pelo princípio de que o bom crítico deve ser um completo equivocado, completamente cego quanto à importância dos Grandes Escritores.
Villemain polemizando com Chateaubriand ; Brunetiére negando Stendhal e Flabeurt ; Lemaire , Verlaine e Mallarmé ; Faguet, Nerval e Zola ; e, para nos referirmos à poesia, basta recordar o juízo apressado e medíocre com o qual Croce pretendeu liquidar Rimbaud e Mallarmé . Erros desse tipo são sempre punidos severamente pela história. Assim, nosso conhecimento do que realmente acontece no mundo da Arte e da Filosofia, assim como no da própria Crítica, tem de sofrer uma perda considerável, antes de tornar-se capaz de alguma dignidade. Demônios inferiores, artificiais, frequentemente tão nulos quanto seres humanos inferires comuns, são de regra insensíveis aos detalhes mais significativos.
K.M.
* Termo francês que significa ''aquele que, todas as segundas-feiras, publica um artigo em um jornal diário. de ''Lund'' : segunda-feira.
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