Perdi a conta de quantas fatias de tempo ganhei abrindo aqueles livros nas páginas certas. Minha busca pelo refinamento literário inimitável começou como um mero passatempo, e terminou com raios de fogo e gelo; naquele verão , há cinco anos, Julia costumava ler os trechos grifados nos livros da minha estante, na suíte que até o momento ocupo nos fundos da casa da minha tia em Ondina, Salvador. Os olhos de Julia, com aquele brilho opaco, começavam enfraquecendo após algumas horas, e nossas preciosas tardes de leitura conjunta (enquanto a luz morria pela janela e um tronco de vidroeiro dançava sob as chamas de uma pequena fogueira no quintal) iam sendo substituídas por horas noturnas de música e amor. Naquele verão, Julia ficou tão animada com o resultado de algumas de minhas colagens literárias, que ela pedia para lê-las em voz alta para nós: Austen, Middlemarch, Joan Didion, um pouco de Proust e Mauriac em francês (até decidirmos que sua pronúncia era realmente ruim...
(continua)
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