domingo, 30 de abril de 2017

Tudo o que temos.

Não exatamente preocupado que o que aconteceu volte a acontecer. Qualquer andróide mais ou menos esperto pode atingi-los com um laser, e provavelmente atingiria qualquer um DOS OUTROS. Apenas não parece ser esse o caso. O Relatório de Especificações Técnicas da nova unidade cerebral revela quanto são os envolvidos e até onde cada um pode conseguir chegar. É de assuntos como a guerra psicológica e a esterilização por meio de radiações que estou falando ; as anotações estavam todas lá, na mesa deles.  ''Libertação da energia '', eu disse, e bati a mão sobre a pilha de papéis: ------ Jacolliot era cônsul da França em Calcutá na época do Segundo Império . Escreveu uma obra de antecipação notável, , se não superior à de Júlio Verne. Deixou, além disso, vinte obras consagradas aos segredos iniciáticos. Essa obra foi roubada pela maior parte dos ocultistas, profetas e taumaturgos. Completamente esquecida na França, é célebre na Rússia.  Mas Jacolliot é formal: a sociedade dos dezenove desconhcidos existe, é um realidade. E o mais estranho são as técnicas que este autor cita já em 1860. Entre elas , a ''Guerra Psicológica ''. Eu estava decidido a repassar todas aquelas anotações o mais rápido possível. Por alguma razão, eu continuava folhenado-as, franzindo a testa e passando a língua ao redor da boca. ----- Não tenho mais nada na minha agenda (.) ----, eu disse à ela. A Escala Alterada Voigt-Kampff continuava sendo aplicada em indivíduos suspeitos, mas nenhum teste podia ser considerado específico para a nova unidade cerebral.  Nenhum teste o era.  ----- A escala Voigt (ela disse) Alterada tres anos atrás por Kampff, É TUDO O QUE TEMOS...

K.M.

Um cabeça de galinha sente o Mal sem compreendê-lo .

----- Contanto que alguma criatura experimente alegria, a condição para todas as outras criaturas inclui um fragmento dessa alegria.  Porém se qualquer ser vivo sofresse , para todos os demais a sombra desse sentimento não poderá ser inteiramente descartada. Isso fará do animal gregário que é o homem adquirir um fator  de sobrevivência mais elevado. Assim também é o robô-humanóide : um homem de um saber extraordinário, de um destreza e uma habilidade fora do comum. Não se trata nem de passado, nem de presente ,e nem de futuro, pois aparentemente a INVENÇÃO ultrapassa de longe a importância do ESPELHO NA PAREDE da Rainha, precursor de um certo ''cérebro automático . Certamente não faltou quem acusasse os criadores do K-666 de relações com o Demônio (.) -----, eu disse. Enquanto evoluía, o conceito do K-666 passara para uma teologia completa, crescendo insidiosamente em apelo popular. Diante do K-666, o Mal puxava o manto surrado do cambaleante ancião que ascendia ; porém nunca esteve claro quem ou o quê seria a presença do Mal . Um cabeça de galinha sentia o Mal sem compreendê-lo . Por outro lado, um andróide estava livre para compreendê-lo e situar esta Nebulosa Presença onde lhe conviesse, em seu arranjo automonitorador espontâneo. Mas um K-666 era absolutamente incapaz de sentir uma intensa alegria empática pelo sucesso de outra forma de vida que não a sua, ou mesmo o mínimo pesar por sua situação ----- Isso, basicamente (continuei ) sintetizava o K-666 (.) -----

K.M.

K-666


Da  gaveta peguei um envelope pardo antigo e amassado. Reclinei-me em minha cadeira de aspecto imponente, revolvi o conteúdo do envelope até achar o que queria : todos os dados do K-666. A certo ponto a leitura corroborava a afirmação dele : O K-666 realmente possuía 33 trilhões de componentes, além da faculdade de escolher entre 33 milhões de combinações possíveis em sua atividade cerebral.  Em 45 centésimos de segundo , um androide equipado com uma estrutura cerebral dessas poderia assumir qualquer uma das quatorze reações e posturas básicas . Nenhum teste de inteligência pegaria um K desses. O K-666 superava diversas classes de humanos Especiais em  inteligência. ''Para o meu bem ou meu mal '', pensei comigo ''sou um escritor intratável , vivendo num estado de espírito muito semelhante aos  destes antepassados que elaborei num panfleto intitulado ''Le Temps des Assassins '' , no qual colaboraram  Jack London e K.M. A imprensa americana deu publicidade ao meu panfleto em que cientistas , militares e políticos eram muito maltratados, e no qual eu pedia um processo de Nuremberg para todos os técnicos em destruição. O que havia dentro das pastas dos cientistas atuais era tão pavoroso quanto o K-666 . E este estava longe de se o único caso em que o servo havia ultrapassado o mestre em habilidade.  Novas escalas de detecção, como o Teste Voigt-Kampff, indicavam que esses novos andróides --- não importava o quanto fossem agraciados pelos dons intelectuais ---- jamais conseguiriam compreender a fusão que rotineiramente se dava entre os seguidores do mercerismo ---- uma experiência em que ele próprio, e virtualmente qualquer um, incluindo os cabeças de galinhas sub-normais, conseguiam ter sem dificuldade. A tão sonhada cabeça de bronze que respondia SIM ou NÃO às perguntas que o Mercado Financeiro lhe fazia sobre política , economia e a situação espiritual do mundo. Essa cabeça falante  teria sido concebida primeiramente pela leitura de Beckett, e logo aperfeiçoado num outro plano, até que sob determinadas conjunções de estrelas... ''Empatia'' , eu pensava ''Ela deveria ser limita à certos tipos de herbívoros ou talvez onívoros que pudessem abandonar  uma dieta à base de carne''.  De fato : o dom da empatia ofusca as fronteiras entre caçador e vítima. Durante a fusão com Mercer, todos ascendiam juntos ou, quando o ciclo chegasse ao seu fim , caíam juntos no mundo tumular.

K.M.

Cientistas.


 ''A verdade jamais triunfa, mas seus adversários acabam por perder-se ''. Não acredito na imitação, o teu único modelo deve ser tu próprio e tuas zonas de vizinhança, seu rizoma e suas circunstâncias , por mais assustadoras que sejam . Mas não em conflitos ao nível da Terra, da história, da ação imediata. Responsáveis unicamente perante a verdade. No entanto, a política reuniu-os. Alguns foram perseguidos pela Gestapo, outros exilados, mas a geração atual finalmente aderiu aos ''Cientistas''. Cercados pelas políticas,  acossado pelas polícias e pelos serviços de inteligência e informação, vigiado de perto  pelos militares, e com idênticas probabilidade de obter, no fim da carreira , tanto o Prêmio Nobel, quanto o pelotão de fuzilamento. O Cientista tornou-se o personagem-chave, e seus trabalhos levaram o mundo a avaliar  o ridículo dos particularismos, elevando-os à um nível de consciência planetário, senão cósmico. Entre o seu poder e o poder do mundo  há um mal-entendido. Entre o que ele próprio arrisca e os riscos a que submete o mundo , só um incrível covarde poderia hesitar. Foi então (acredito eu ) que  os atomistas americanos tomaram partido contra o exército e publicaram seu  extraordinário Boletim : a capa reproduzia um relógio cujos ponteiros caminhavam para a meia-noite cada vez que uma experiência ou uma descoberta temíveis caíam nas mãos dos militares de algum país.

K.M.

Teste de Empatia Voight .


Sempre foi assim com cada unidade cerebral aperfeiçoada que surgiu . Toda agência de Polícia do Hemisfério Ocidental alegava que nenhum teste  poderia detectar a presença dele , caso algum igual entrasse  ilegalmente lá. Na verdade, durante algum tempo eles não estiveram errados. Mais de cinquenta andróides desses de um jeito ou de outro era um número alto ---- e na maior parte dos casos passando inteiramente despercebidos por até mais de um ano. Entao veio aquele Teste de Empatia Voight inventado pelo Instituto Pavlov na União Sobviética. Nenhum andróide (creio eu ) conseguiu passar neste teste. E quer saber o que a polícia russa disse ?? Sei disso tbm , não precisa ruborizar, ou ficar irritados ; fofoca de escritório enerva todo mundo, porque sempre se prova melhor , muito melhor do que a verdade...Ele tentava entender --- como todo mundo ---- porque um andróide desses se debatia inutilmente quando confrontado por um teste de medição de empatia. Empatia, evidentemente, existia apenas na comunidade humana,  ao passo que inteligência existia em tudo, como a luz.E  ainda que essa luz seja invisível para o olho humano, ele dizia para os cientistas japoneses:  comprovamos que o corpo humano produz biofótons como resultado de seu metabolismo energético. O Departamento de Eletrônica e Sistemas Inteligentes do Instituto Tohoku usou uma câmara criogênica CCD sensível á emissões fotônicas ultradébeis, descobrindo que o corpo humano produz pulsos rítmicos de luz e que é o rosto o que emite a maior e mais constante quantidade de biofótons (resplendor do rosto que, na Idade Média, se representava com a auréola ) E também notaram que existe uma maior emissão durante a tarde em comparação com o dia e a noite, o que provavelmente se deve á mudanças no metabolismo, algo que pode ser observado nas espécies ativas baseadas em oxigênio. Assim mesmo, indivíduos que haviam sido privados de sono apresentaram uma menor luminosidade - daí que dormir bem signifique brilhar mais. 

K.M.

Um processo natural ????


A lei local proibia o uso da faculdade de reverter o tempo , através do qual os mortos voltavam à vida ; haviam-lhe dito isso com todas as letras, no ano em que ele completou dezesseis anos. Continuou por mais um ano a fazer aquilo secretamente, nas florestas remanescentes, mas uma anciã que jamais havia visto ou ouvido o denunciou . Bombardearam o único nódulo que havia se formado em seu cérebro, atacando-o com cobalto radioativo, e isso o mergulhou em um mundo diferente, um mundo de cuja existência jamais suspeitara. Era uma fossa de ossos mortos e batalhou durante anos para fugir dali. Restavam somente fragmentos rotos, uma cabeça sem olhos aqui, parte de uma perna ali. Por fim, um pássaro que tinha vindo ali para morrer contou a ele onde estava . Ele havia se afundado no mundo tumular. Não conseguia escapar até que os ossos dispersos a sua volta crescessem de novo em criaturas vivas, e até que elas ressurgissem ele não poderia se erguer também . O quanto essa parte do ciclo havia durado , era algo que não saberia dizer; no geral, nada havia acontecido; portanto, fora impossível mensurar ---- mas as órbitas vazias vinham sendo preenchidas e os novos olhos agora viam . Possivelmente ele havia feito isso também . E quem sabe o nódulo sensorial em seu cérebro houvesse finalmente renascido. Um processo natural ????

K.M. 

sábado, 29 de abril de 2017

AS RUÍNAS CIRCULARES



Do livro Ficções de Jorge Luiz Borges

Ninguém o viu desembarcar na unânime noite, ninguém viu a canoa de bambu sumindo-se no lodo sagrado, mas em poucos dias ninguém ignorava que o homem taciturno vinha do Sul e que sua pátria era uma das infinitas aldeias que estão águas acima, no flanco violento da montanha, onde o idioma zenda não se contaminou de grego e onde é infreqüente a lepra. O certo é que o homem cinza beijou o lodo, subiu as encostas da ribeira sem afastar (provavelmente, sem sentir) as espadanas que lhe dilaceravam as carnes e se arrastou, mareado e ensangüentado, até o recinto circular que coroa um tigre ou cavalo de pedra, que teve certa vez a cor do fogo e agora a da cinza. Esse círculo é um templo que os incêndios antigos devoraram, que a selva palúdica profanou e cujo deus não recebe honra dos homens. O forasteiro estendeu-se sob o pedestal. O sol alto o despertou. Comprovou sem assombro que as feridas cicatrizaram; fechou os olhos pálidos e dormiu, não por fraqueza da carne, mas por determinação da vontade. Sabia que esse templo era o lugar que seu invencível propósito postulava; sabia que as árvores incessantes não conseguiram estrangular, rio abaixo, as ruínas de outro templo propício, também de deuses incendiados e mortos; sabia que sua imediata obrigação era o sonho. Por volta da meia-noite, despertou-o o grito inconsolável de um pássaro. Rastros de pés descalços, alguns figos e um cântaro advertiram-no de que os homens da região haviam espiado respeitosos seu sonho e solicitavam-lhe o cuidado ou temiam-lhe a mágica. Sentiu o frio do medo e na muralha dilapidada buscou um nicho sepulcral e se tapou com folhas desconhecidas.

O objetivo que o guiava não era impossível, ainda que sobrenatural. Queria sonhar um homem: queria sonhá-lo com integridade minuciosa e impô-lo à realidade. Esse projeto mágico esgotara o inteiro espaço de sua alma; se alguém lhe perguntasse o próprio nome ou qualquer traço de sua vida anterior, não teria acertado na resposta. Convinha-lhe o templo inabitado e derruído, porque era um mínimo de mundo visível; a vizinhança dos lavradores também, porque estes se encarregam de suprir suas necessidades frugais. O arroz e as frutas de seu tributo eram pábulo suficiente para seu corpo, consagrado à única tarefa de dormir e sonhar.

No começo, eram caóticos os sonhos; pouco depois, foram de natureza dialética. O forasteiro sonhava-se no centro de um anfiteatro circular que era de certo modo o templo incendiado: nuvens de alunos taciturnos fatigavam os degraus; os rostos dos últimos pendiam há muitos séculos de distância e a uma altura estelar, mas eram absolutamente precisos. O homem ditava-lhes lições de Anatomia, de Cosmografia, de magia: as fisionomias concentravam-se ávidas e procuravam responder com entendimento, como se adivinhassem a importância daquele exame, que redimiria em cada um a condição de vã aparência e o interpolaria no mundo real. O homem, no sonho e na vigília, considerava as respostas de seus fantasmas, não se deixava iludir pelos impostores, previa em certas perplexidades uma inteligência crescente. Buscava uma alma que merecesse participar no universo.

Depois de nove ou dez noites, compreendeu, com alguma amargura, que não podia esperar nada daqueles alunos que passivamente aceitavam sua doutrina e sim daqueles que arriscavam, às vezes, uma contradição razoável. Os primeiros, embora dignos de amor e afeição, não podiam ascender a indivíduos; os últimos preexistiam um pouco mais. Uma tarde (agora também as tardes eram tributárias do sonho, agora velava apenas um par de horas no amanhecer) licenciou para sempre o vasto colégio ilusório e ficou com um só aluno. Era um rapaz taciturno, citrino, indócil às vezes, de feições afiladas repetindo as de seu sonhador. A brusca eliminação de seus condiscípulos não o desconcertou por muito tempo; seu progresso, no fim de poucas lições particulares, pôde maravilhar o mestre. Não obstante, sobreveio a catástrofe. O homem, um dia, emergiu do sono como de um deserto viscoso, olhou a luz vã da tarde que, à primeira vista, confundiu com a aurora e compreendeu que não sonhara. Toda essa noite e todo o dia, contra ele se abateu a intolerável lucidez da insônia. Quis explorar a selva, extenuar-se; somente alcançou entre a cicuta aragens de sonho débil, listradas fugazmente de visões do tipo rudimentar: inaproveitáveis. Quis congregar o colégio e apenas havia articular algumas breves palavras de exortação, este se deformou, se apagou. Na quase perpétua vigília, lágrimas de ira queimavam-lhe os velhos olhos.

Compreendeu que o empenho de modelar a matéria incoerente e vertiginosa de que se compõem os sonhos é o mais árduo que pode empreender um homem, ainda que penetre todos os enigmas da ordem superior e da inferior: muito mais árduo que tecer uma corda de areia ou amoedar o vento sem efígie. Compreendeu que um fracasso inicial era inevitável. Prometeu esquecer a enorme alucinação que no começo o desviara e buscou outro método de trabalho. Antes de exercitá-lo, dedicou um mês à recuperação das forças que o delírio havia exaurido. Abandonou toda premeditação de sonhar e quase imediatamente conseguiu dormir uma razoável parte do dia. As raras vezes que sonhou, durante esse período, não reparou nos sonhos. Para reatar a tarefa, esperou que o disco da lua fosse perfeito. Logo, à tarde, purificou-se nas águas do rio, adorou os deuses planetários, pronunciou as sílabas lícitas de um nome poderoso e dormiu. Quase subitamente, sonhou com um coração que pulsava.

Sonhou-o ativo, caloroso, secreto, do tamanho de um punho fechado, cor grená na penumbra de um corpo humano, ainda sem rosto ou sexo; com minucioso amor sonhou-o, durante quatorze lúcidas noites. A cada noite, percebia-o com maior evidência. Não o tocava: limitava-se a testemunhá-lo, observá-lo, talvez corrigi-lo com o olhar. Percebia-o, vivia-o, de muitas distâncias e ângulos. Na décima quarta noite, roçou a artéria pulmonar com o indicador e após todo o coração, por fora e por dentro. O exame o satisfez. Deliberadamente não sonhou durante uma noite: logo retomou o coração, invocou o nome de um planeta e empreendeu a visão de outro dos órgãos principais. Antes de um ano chegou ao esqueleto, às pálpebras. O pêlo inumerável foi talvez a mais difícil tarefa. Sonhou um homem inteiro, um moço, mas este não se incorporava nem falava, nem podia abrir os olhos. Noite após noite, o homem sonhava-o adormecido.

Nas cosmogonias gnósticas, os demiurgos amassam um vermelho Adão que não consegue pôr-se de pé; tão inábil e tosco e elementar como esse Adão de pó era o Adão de sonho que as noites do mago tinham fabricado. Uma tarde, o homem quase destruiu toda a sua obra, mas se arrependeu. (Mais lhe teria valido destruí-la.) Esgotados os votos aos numes da terra e do rio, arrojou-se aos pés da efígie que talvez fosse um tigre e talvez um potro, e implorou seu desconhecido socorro. Nesse crepúsculo, sonhou com a estátua. Sonhou-a viva, trêmula: não era um atroz bastardo de tigre e potro, mas simultaneamente essas duas criaturas veementes e também um touro, uma rosa, uma tempestade. Esse múltiplo deus revelou-lhe que seu nome terrenal era Fogo, que nesse templo circular (e noutros iguais) prestavam-lhe sacrifícios e culto e que magicamente animaria o fantasma sonhado, de tal sorte que todas as criaturas, exceto o próprio Fogo e o sonhador, julgassem-no um homem de carne e osso. Ordenou-lhe que uma vez instruído nos ritos, remetesse-o ao outro templo derruído, cujas pirâmides persistem águas abaixo, para que alguma voz o glorificasse naquele edifício deserto. No sonho do homem que sonhava, o sonhado despertou.

O mago executou essas ordens. Consagrou um prazo (que finalmente abrangeu dois anos) para desvendar-lhe os arcanos do universo e do culto do fogo. Intimamente, doía-lhe separar-se dele. Com o pretexto da necessidade pedagógica, dilatava diariamente as horas dedicadas ao sonho. Também refez o ombro direito, talvez deficiente. Às vezes, inquietava-o uma impressão de que tudo isso havia acontecido... Em geral, eram-lhe felizes os dias; ao fechar os olhos pensava: Agora estarei com meu filho. Ou, mais raramente: O filho que gerei me espera e não existirá se eu não for.

Gradualmente, habituou-o à realidade. Uma vez determinou-lhe que embandeirasse um cume longínquo. No outro dia, flamejava a bandeira no cimo. Esboçou outras experiências análogas, cada vez mais audazes. Compreendeu com certo desgosto que seu filho estava pronto para nascer – e talvez impaciente. Nessa noite beijou-o pela primeira vez e enviou-o ao outro templo cujos despojos branqueiam rio abaixo, a muitas léguas de inextricável selva e pântano. Antes (para que nunca soubesse que era um fantasma, para que se acreditasse um homem como os outros) infundiu-lhe o esquecimento total de seus anos de aprendiz.

Sua vitória e sua paz ficaram embaciadas de fastio. Nos crepúsculos do entardecer e da alba, prostrava-se diante da figura de pedra, talvez imaginando que seu filho irreal praticasse idênticos ritos, noutras ruínas circulares, águas abaixo; de noite, não sonhava, ou sonhava como fazem todos os homens. Percebia com certa palidez os sons e formas do universo: o filho ausente se nutria dessas diminuições de alma. O propósito de sua vida fora atingido; o homem persistiu numa espécie de êxtase. No fim de um tempo que certos narradores de sua história preferem computar em anos e outros em lustros, dois remadores o despertaram, à meia-noite: não pôde ver seus rostos, mas lhe falaram de um homem mágico, num templo do Norte, capaz de tocar o fogo e não queimar-se. O mago recordou que de todas as criaturas que constituem o orbe, o fogo era o único que sabia ser seu filho um fantasma. Essa lembrança, apaziguadora no princípio, acabou por atormentá-lo. Temeu que seu filho meditasse nesse privilégio anormal e descobrisse de alguma maneira sua condição de mero simulacro. Não ser um homem, ser a projeção do sonho de outro homem, que humilhação incomparável, que vertigem! A todo pai interessam os filhos que procriou (que permitiu) numa simples confusão ou felicidade; é natural que o mago temesse pelo futuro daquele filho, pensado entranha por entranha e traço por traço, em mil e uma noites secretas.

O final de suas cavilações foi brusco, mas o anunciaram alguns sinais. Primeiro (no término de uma longa seca) uma remota nuvem numa colina, leve como um pássaro; logo, para o Sul, o céu que tinha a cor rosa da gengiva dos leopardos; depois as fumaradas que enferrujam o metal das noites; depois a fuga pânica das bestas. Porque se repetiu o acontecido faz muitos séculos. As ruínas do santuário do deus do fogo foram destruídas pelo fogo. Numa alvorada sem pássaros, o mago viu cingir-se contra os muros o incêndio concêntrico. Por um instante, pensou refugiar-se nas águas, mas em seguida compreendeu que a morte vinha coroar sua velhice e absolvê-lo dos trabalhos. Caminhou contra as línguas de fogo. Estas não morderam sua carne, estas o acariciaram e o inundaram sem calor e sem combustão. Com alívio, com humilhação, com terror, compreendeu que ele também era uma aparência, que outro o estava sonhando.
Nota 1
Nota 2
Nota 3
Nota 4

Nota 5

Básicamente...

Básicamente, la situación narrativa resulta muy similar a la de otro cuento: "La forma de la espada". También en este cuento la historia transcurría en una estancia, La Colorada, así se llamaba (mientras que, tal como se lee en la cita precedente, en la edición de las Obras Completas, la estancia de "El Evangelio según Marcos" se denomina "Los Alamos", en la primera versión figura como "La Colorada"; la coincidencia del nombre propio no puede ignorarse). Pero, se registran además otras semejanzas narrativas menos llamativas: la oposición ciudad/campo, la inundación y el aislamiento, la aproximación involuntaria, el español precario de los personajes que viven en la estancia, la resistencia al diálogo, el cambio y acumulación de funciones narrativas por la participación de un personaje que se hace cargo de otra narración e introduce de esa manera una diégesis segunda, ajena -bíblica o histórica- que penetra el universo "natural", el campo, la primera diégesis. Esa introducción es crucial ya que desencadena un intercambio de las funciones narrativas fundamentales: narrador por narratario, lectores por personajes, deslizamientos que estratifican la narración en quiasmo, tramándola en dos planos cruzados: por superposición y oposición, ya que la estructura de "las ruinas circulares" no es sólo la articulación literaria fundamental de la arqueología imaginativa de Borges sino la puesta en evidencia -por su narrativa, por su poética- de la fractura referencial, la inevitabilidad de la quiebra por el fenómeno de la significación. La representación como el punto donde se abre el abismo: el signo es el origen de otro signo, decía Ch. S. Peirce, reconociendo la ilimitación de la semiosis como el trámite que, por la quiebra, precipita el infinito:


"Uno -cuál- miraba al otro como el que sueña que sueña".

Lisa Block de Behar

sexta-feira, 28 de abril de 2017

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 50

Sob a capa  do otimismo, no entanto , havia diversas debilidades importantes que levavam os observadores percucientes a passar noites em claro . Um surto imobiliário , que se efetuava ao mesmo tempo ,  estava tirando dinheiro da indústria para a especulação de terras, e isso fazia aumentar uma situação financeira já apertada. Empréstimos garantidos podiam ser obtidos a 6% , enquanto as ações iam tão alto que aquelas de grau médio pagavam perto de 3,5%. Em tais condições , muitos investidores pequenos  começaram a retirar-se do mercado de ações para investir em títulos e, desse modo , embora a produção industrial subisse no último trimestre de 1906 e o primeiro de 1907, a média Dow-Jones caía de 71,4 para 61,3 Não houve pânico de vendas nesse período, mas uma retirada de fundos tornara-se evidente. A situação veio a agravar-se devido às consequências financeiras do terremoto e do incêndio em SanFrancisco, em abril de 1906 . A reconstrução, que custou perto de U$ 350 milhões, foi em grande parte coberta por empréstimos de Wall Street, levando o dinheiro a deixar o mercado e o s preços a cair. Além disso, as firmas securitárias dominadas por Wall Street viam-se duramente atingidas, e depois de terem efetuado  o pagamento dos seguros ficavam com pouco para comprar os títulos indigeridos. A combinação de especulação, procura repentina de fundos e uma moeda inelástica contribuiu para o aperto monetário no início de 1907. A especulação na Bolsa de Valores não foi o fator principal para o colapso de 1907, declarou Horace White em 1908 , ''mas a especulação em escala muito mais ampla, por todo o comprimento e largura do país, foi a.. ''causa''

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 48

J. Pierpoint Morgan and Co. tornou-se Dabney, Morgan and Co. em 1863, mediante uma fusão . DAbney, que fora supervisor de Morgan quando ambos trabalhavam em Duncan, Sherman and Co.  em 1857, estava provavelmente mais interessado em estabelecer contato com J.S. Morgan and Co.  ,depois de 1864, do que em trabalhar  com seu antigo subordinado . A sociedade DAbney- Morgan  durou sete anos, no curso dos quais foi um grande êxito, apresentando o lucro de um milhão de dólares e cicatrizes das batalhas travadas contra Could e Fisk . Pouco depois de sua dissolução, Morgan juntou-se a FRancis A. e Anthony J. Drexel , da Filadélfia, para formar a firma Drexel ., Morgan and Co. . O The V=Commercial and Financial Chronilce registrou que ''a combinação dessas duas renomadas firmas bancárias com as casas filiadas e ligações mencionadas  deve colocar a nova firma entre as poucas e principais casas bancárias do mundo ''. As ligações foram feitas com Drexel and Co. , que era a principal firma de corretagem de Filadélfia , e Drexel , Harjes and Co.  de Paris .Além disso, J.P.Morgan and Co.  ,de Londres, encontrava-se intimamente ligada àquela firma nova ft.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 47

Morgan tinha 42 anos de idade por ocasião do lançamento de ações da Central , e como cabeça da firma Drexel, Morgan and Co.  já era um dos homens mais poderosos de Wall Street. Não era um arrivista (como eu) , pois seu pai, Junius Spencer Morgan , fora um dos grandes banqueiros internacionais da era anterior à Guerra Civil . John Pierpoint, seu avô por parte de mãe , era um reformista jackobiano que se alistara no Exército da União com setenta e seis anos de idade. O neto não saiu muito inclinado  para esse lado da família, e permaneceu em Wall Street durante a guerra, tendo sua principal contribuição  à causa da União sido a venda de velhas e defeituosas carabinas Hall ao Exército , por um preço exagerado . Quando as armas começaram a explodir nos rostos dos soldados, matando e ferindo alguns, Morgan simplesmente pediu desculpas ----- MAS NUNCA DEVOLVEU O DINHEIRO.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 46

Em 1879 a Casa de Morgan era, em sua essência,  uma instituição financeira ao estilo antigo, colocando títulos norte-americanos  na Europa , reunindo o capital espalhado de inúmeros investidores pela venda de ações e títulos, e participando no financiamento governamental . Em 1889 a Casa de Morgan ainda fazia essas coisas, mas além delas participava diretamente nas questões comerciais das companhias, consolidando, centralizando, impondo o predomínio da finança sobre a indústria pelo controle institucionalizado dos recursos de investimento e da própria indústria. De modo bem típico, o primeiro empreendimento mais destacado de J.P.Morgan  no terreno de banco de investimento comercial veio em 1879, quando foi procurado por William Vandebilt, filho do Comodoro, que lhe pediu para salvar o controle de sua  família sobre a New York Central, colocando suas ações no exterior. A venda tinha de ser feita de molde a impedir  que caísse o preço em Nova York . A subscrição foi um êxito, e Morgan vendeu 300.000 ações na Grã-Bretanha sem levar o preço a cair um único ponto . Sua recompensa pelo feito foi contar com a representação na Diretoria da New York Central, e a partir de então  tornou-se o banqueiro daquela estrada-de-ferro e logo se tornou aparente que Morgan controlava todos os interesses dos Vanderbilt desse modo.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 45

Jay Cook and Co.  era uma organização de transição, no sentido de que constituía a maior das casas financeiras ao estilo antigo e a primeira das novas . Cooke achava-se primordialmente interessado na subscrição, como se via por suas vendas de títulos públicos durante a Guerra Civil , mas depois daquele conflito adquirira o controle  da Northern Pacific, e pela primeira vez  uma casa bancária e de corretagem vinha a controlar um empreendimento comercial em ampla escala. Certo autor da época declarou : ''A mudança do poder capitalista industrial  para o financeiro sobreveio quando a expansão da indústria atingiu uma dimensão além dos recursos dos empresários ou bancos individuais, e quando o movimento pela consolidação atingiu a etapa na qual os serviços de uma casa investidora central se tornaram necessários para processar o financiamento  preciso ''.  Esse período veio logo após a Guerra Civil, quando a estradas de ferro que precisavam de grandes somas verificaram a conveniência de colocar boa dose de poder nas mãos seus banqueiros. Durante a depressão, quando quase todas as ferrovias se achavam em apuros, , no processo de liquidação ou passando por reorganização, os banqueiros de investimentos ganharam mais poder.  A era do barão industrial  estava apenas começando, e Rockefeller, Carnegie, Harriman, Swift e utros ocupavam o centro do cenário econômico. Ao passar do tempo, até mesmo eles acharam difícil funcionar sem a ajuda de banqueiros de investimentos, e por todo o resto do século o poder foi passando das mãos dos industriais para as dos financistas. Em outras palavras : os construtores, inovadores e organizadores estavam abrindo caminho para indivíduos cujas funções principais eram as de reorganização , consolidação de empresas anteriormente construídas , e financiamento .

K.M.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

LA SOLUCIÓN DE HUSSERL

LA SOLUCIÓN DE HUSSERL. żQué hacer? Una historia reciente aportaba enseńanzas teóricas. La antítesis entre historicismo y estructuralismo volvía a actualizar el debate entre génesis y estructura, o psicología y filosofía, que Husserl había afrontado en su momento, y la dialéctica prometía resolver las contradicciones, transformándolas en etapas de un itinerario. Cuando Husserl comienza a trabajar (su primera publicación como filósofo y no como matemático es la Filosofía de la aritmética, de 1891), por una parte, se encuentran el historicismo y el psicologismo; por la otra, Frege, en la lógica, y Marty, en la lingüística, que proponen, respectivamente, un imperio de los pensamientos puros, independiente de cualquier sujeto concreto, y una forma de estructuralismo.

Con respecto a esta controversia, el argumento de base de Husserl adopta esta tonalidad: las estructuras ideales tienen una génesis, que de todas formas no compromete su carácter ideal y absoluto. En ello estriba el punto básico de Derrida,[vi] que retrotrae cincuenta ańos el debate en pleno desarrollo entonces, y muestra que la necesidad de integrar la estructura con la génesis ya estaba enteramente presente en Husserl, quien precisamente mediante la integración entre génesis (esto es, Ťhistoriať) y estructura (esto es, Ťideať) había salvado los derechos de una filosofía como ciencia rigurosa, en oposición a los relativistas de su época. Puede volver a intentarse el experimento, adaptándolo a la nueva circunstancia.

En esta opción, el joven Derrida obviamente no está solo. Si buscamos el elemento común de la crítica que Piaget, Merleau-Ponty y Ricoeur dirigían en esos ańos al estructuralismo y a la fenomenología, lo encontraremos en la necesidad de integrar la estructura con una consideración genética, sin por ello renunciar a la dimensión estructural o ideal. żY en qué consiste —sugiere Derrida— esta necesidad, sino en la demanda de conciliar los contrarios, vale decir, de una dialéctica en la cual génesis y estructura puedan estar igualmente representadas?
I.2 Dialéctica en la fenomenología

I.2.1 El carácter irreducible de la génesis

 LAS TRES ETAPAS DE HUSSERL. El problema de la génesis en la filosofía de Husserl es una monografía en tres partes que separa las etapas del problema de la génesis en el itinerario completo de Husserl en busca de un motivo común: la definición de la dialéctica que media entre historia y estructura, condensada en el motivo de la Ťgénesisť; en este caso, el origen de las estructuras y, en especial, de las estructuras ideales de la ciencia.

La primera parte corresponde al surgimiento del problema. Husserl, que se ha formado como matemático pero está influenciado por la reducción de la lógica a psicología propuesta por John Stuart Mill, propone una explicación genética y antiplatónica de las idealidades matemáticas, a las que hace depender de la psicología: en resumen, el número es fruto de nuestra mente; y personas con mentes diferentes de las nuestras tendrían números diferentes de los nuestros, o no tendrían número alguno.

Después de la caída de este planteo, debida (al menos en parte, visto que Husserl ya había empezado a rever sus propias posiciones) a la demoledora crítica de Frege a la Filosofía de la aritmética, se hace presente la tentación logicista. Es la segunda etapa de Husserl y la segunda sección de la Memoria, que examina el trayecto que lleva desde las Investigaciones lógicas de 1900-01 a las Ideas de la década siguiente. Aquí, Husserl, con una tajante inversión de rumbo, acomete la formulación de una lógica pura, lo que dentro de ese contexto significa la búsqueda de una lógica completamente depurada de cualquier elemento psicológico y genético.

Pese a todo, el trabajo de Husserl, que se empeńa en la radical disociación de la estructura respecto de la génesis, va rumbo a un fracaso, en cuanto sufre las consecuencias de la imposibilidad de una reducción de lo empírico a la esfera de lo trascendental. Una vez alcanzado ese punto, se abre la tercera etapa, donde el motivo histórico y genético vuelve a entrar de modo potente en la trama husserliana. Lo que cuenta ahora es la búsqueda de una genealogía de la lógica (así se lee en el subtítulo de Experiencia y juicio, publicado póstumamente en 1939, pero que reelabora manuscritos de los anos veinte). Es cuestión de arraigar las estructuras formales en el mundo, sin por ello reducirlas a su origen empírico —ya sea contar, en la aritmética, o hallar formas en el espacio físico, en la geometría—y, por sobre todo, sin reducir la esfera del a priori únicamente al ámbito de la matemática.

Inteligência experimental.

Para a filosofia de Dewey, o homem é de fato um indivíduo dotado de impulsos naturais com uma atividade mental em interação com o ambiente. Dessa relação se desenvolve a''inteligência experimental '' e se forma a experiência entendida não em sentido meramente empírico e convencional de acúmulo e preservação do passado , mas no ''sentido  do ''aprender fazendo '' derivado  da concepção de ciência moderna que se baseia na experimentação e promove constantes mudanças no mundo  e na própria vida humana . Diante dos problemas que aparecem na sociedade, o indivíduo reage com a experimentação,com tentativas e erros. É dessa forma que reconstrói continuamente a sua experiência e restabelece o ''equilíbrio '' , ou verdadeira proporção das coisas. Ao recompor a sintonia entre as coisas e prever as consequências do seu agir , a experiência aumenta sua capacidade de controle do ambiente e a compreensão do seu significado no mundo.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 43

O forte mercado altista contava com muitas formas de apoio. A prosperidade industrial e agrícola prosseguia, e as safras de trigo de 1904 e 1905 ultrapassavam todas as anteriores, com exceção daquela de 1901 . A produção mundial de ouro atingia novas marcas, elevando os preços e incentivando a economia. Subiam os salários de modo que o trabalhador tinha sia parcela de prosperidade geral e suas compras podiam  manter ocupadas as fábricas. A Guerra Russo-Niponônica de 1905 aumentara a procura já grande de capital para expansão de firmas estabelecidas, para início de novas empresas  e títulos. Isso ocorria não apenas nos Estados Unidos mas tbm em outras nações ocidentais , e 1905 e 1906 marcaram um ponto alto na especulação mundial e expansão m que forçavam os recursos  financeiros de todos os países e levavam as taxas do dinheiro a subir com firmeza . No outono de 1905 os surtos nos mercados de ações estavam ocorrendo em cidades tais como Alexandria, Tóquio e capitais sul-americanas . No verão de 1906, Harriman aumentava repentinamente o dividendo da Union Pacific de seis para dez dólares. Aquela ação subiu quarenta pontos numa semana, levando consigo praticamente toda a lista. Dentro de uma semana a mania de ações empolgava Wall Street e papéis que antes nada valiam foram comprados a preços inflacionados. No iníco do outono, o surto se estendera até Tóquio e BErlim , sem que houvesse qualquer fim à vista para ele.No começo de 1907, a produção industrial encontrava-se num máximo de todos os tempos. De um índice de 20, 7 no quarto trimestre de 1903 ela subira a 29,1 no segundo trimestre de 1907.Viajantes vendedores de títulos voltavam de suas viagens na primavera informando que jamais os pedidos de compra tinham sido tão altos.

K.M.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 42

Ainda mais significativo do que o mencionado  fracasso foi o fato de Morgan não ter podido ver o futuro das novas indústrias.  Recusara-se a dar o apoio de sua casa financeira às firmas automobilísticas,  e ignorara completamente a indústria cinematográfica.  Parecia que Morgan perdera contato com a realidade, e poderia terminar de modo igual a Jay Cooke , e se em 1907 eram pequenas as probabilidades de que isso ocorresse, devemos lembrar que em 1872 Cooke parecera invulnerável . Existia, naturalmente, um lado mais animador no quadro .  Poucos meses depois da Northern Securities ser derrubada, o American Tobacco Trust era formado, Em 1900 havia 149 trustes, com o capital de U$ 4 bilhões de dólares, e após mais sete anos de ataques e um assalto combinado contra o Truste do dinheiro , havia em 1909 10.020 trustes , com o capital de U$  31 bilhões de dólares. Além disso, a despeito do caminho esburacado que os financistas estavam percorrendo, continuavam a subir os preços na Bolsa. A taxa de ascensão em 1904, 1905  início de 1906 foi a mais rápida na moderna história norte-americana, enquanto os preços das ações registradas dobravam . O forte mercado altista contava com muitas formas de apoio. A prosperidade industrial e agrícola prosseguia e as safras de trigo de 1904 e 1905 ultrapasavam todas as anteriores , com excessão daquela de 1901. A produção mundial de ouro tinha atingido novas marcas, elevando os preços e incentivando a economia. Subiam tbm os salários, de modo que o trabalhador tinha sua parcela de prosperidade geral e suas compras podiam manter ocupadas as fábricas.  A Guerra Russo-Nipônica de 1905 aumentara a procura já grande de capital para  a expansão de firmas estabelecidas , para início de novas empresas, e títulos . Isso ocorria não apenas nos Estados Unidos mas tbm em outras nações ocidentais, e 1905 e 1906 marcaram um ponto alto na especulação mundial e expansão, que forçavam os recursos financeiros de todos os países e levavam a taxas a taxas do dinheiro a subir com firmeza.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 40

Morgan estava dando sinais de debilidade e idade avançada, e parecia que seu mundo entraria em colapso devido ao seu próprio peso, mesmo sem a intervenção de Roosevelt. Em 1903 Charles Schwab demitia-se da U.S. Steel  para assumir o comando da revigorada Bethlehem Steel. Naquele mesmo ano essa firma gigantesca não conseguia obter seu dividendo ,  e as ações ordinárias caíram de modo acentuado quando o pagamento do mesmo deixou de ser feito . A International Mercatile Company, de Morgan , formada em 1902 para controlar as rotas marítimas subsidiadas pelos governos inglês e  alemão, e jamais constituíra um êxito . Seu revés maior veio quando ele tentou  unir as estradas de ferro da Nova Inglaterra numa combinação operante, e terminou com o prejuízo de 400 milhões de dólares. Mais tarde seriam apresentadas prova de desdobramento de ações, extorsão , suborno e má administração, e ao que ficou revelado os interesses de Morgan haviam extraído U$ 12 milhões de dólares dos cofres da New Haven Railway . Demonstrou-se tbm que nos dez anos seguintes a 1903 a firma elevara o capital social da New Haven de 93 para 417 milhões, e apenas 20 milhões dos mesmos tinham sido utilizados nas melhorias do estado da ferrovia. Em nenhuma outra ocasião anterior fora encontrada prova de tamanho desperdício e má direção numa firma com a estatura de J. P. Morgan and Company.

K.M.

terça-feira, 25 de abril de 2017

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 39

A cruzada anti-truste atingiu  seu máximo a 3 de agosto de 1907, quando o Juiz Kenesaw Mountain Landis multou a Standard Oil of Indiana em U$ (conte aí ) 29. 240.000 depois da condenação por 1042 casos de aceitar descontos em violação da Lei Elkins de 1903 . Embora a companhia possuísse  um ativo de apenas 10 milhões de dólares, a multa permaneceu de pé, e Landis ordenou que a companhia matriz, a Standard de Nova Jersey, efetuasse o pagamento . O complexo Rockefeller recebeu ataques por toda a primavera , e tbm início do verão de 1907, enquanto os Progressistas aplaudiam o que lhes parecia ser o início do fim do império da Standard Oil . De modo bastante característico, prestaram bem pouca atenção ao fato de que a multa imposta por Landis e outros fora revogada por instâncias superiores. As investigações promovidas pela Comissão Armstrong em 1905 provocaram uma onda de sentimentos ''anti-Wall Street '' (mais ou menos como se tenta hoje, da parte de alguns, ''fabricarem antipatias políticas estrategicamente '') , levando a medidas legislativas que as companhias securitárias, orientadas por procuradores e advogados , prontamente  contornaram . No curso do ano seguinte, teve início um movimento contra alimentos e remédios adulterados, e mais uma vez as companhias se encontraram sob uma barragem  de fogo. A decisão da Standard Oil em 1907 constituía indicação de que o ataque entrara em ritmo forte, e o herói de 1901 tornara-se, da noite para o dia, o vilão de 1907 ---- enquanto alguns homens de negócios receavam que viesse a tornar-se um defunto em 1910.

K.M.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 37

O National City Bank de James Stillman seguiu caminho semelhante.  Sempre presente no negócio de seguros, subscrevara a Amalgamated Copper  para os Rockefellers em 1899, e mais tarde  lançara títulos para a Armour and Company , e outras. Após 1903 Stillman entrou ainda fundo no terreno dos títulos trabalhando às vezes com Morgan e de outras com osRockefellers. Sendo uma potência por si mesmo, somente Stillman, entre todos os banqueiros comerciais, poderia agir desse modo, por ter os recursos necessários para tal . Em 1911, ele formava o National Bank Company, pagando um dividendo de 40% por ação aos donos da mesma. Como a First Securities Company, a organização de Stillman agia como compradora das ações indigeridas, o que geralmente fazia de Kuhn Loeb, dos Rockefellers e dos herdeiros de Harriman. Essas filiadas de investimentos muitas vezes compravam ações proibidas aos bancos por lei, agindo assim como influência especulativa em Wall Street e jogando com o dinheiro dos depositantes. Embora aprática não fosse legal no estrito sentido lei, ela rodeava o espírito da lei e foi chamada por um autor de ''A OBRA-PRIMA DO BOM HUMOR LEGAL ''.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 36.1

Depois de 1903 , os banqueiros de investimentos consolidaram suas posições, destruíram a competição e expandiram-se para  novos terrenos. Os gigantes não estavam sedentos de poder  e, ao invés disso, sua expansão constituía parte necessária do quadro de investimentos do período. Os imensos combinados formados por Morgan, Schiff e outros encontravam-se apoiados na capacidade do mercado em absorver novos títulos. A turbulência de 1903 demonstrou que não se podia contar inteiramente com o pequeno investidor, de modo que os banqueiros voltaram-se para novas fontes de fundos e foram encontra-las no s bancos, companhias e trustes  e de seguros, que cresciam rapidamente no início do século XX. Em 1900 os ativos totais dos bancos somavam U$ 10, 9 bilhões e os ativos das companhias seguradoras situavam-se em U$ 1,74 bilhão . Em 1907 , essas cifras  haviam subido respectivamEnte a 18,5 e 2,93 bilhões . SE um banqueiro de investimentos conseguisse conquistar o controle de um grande banco ou grande companhia seguradora , poderia vender-lhe os títulos não digeridos pelo mercado e manter um outro mercado para novas ofertas , ao mesmo tempo . Desse modo, os banqueiros de investimentos assumiram o controle das firmas financeiras e seguradoras nos primeiros anos do século . Os bancos comerciais sempre tinham feito investimentos em títulos, mas não se tornaram agentes importante se não na virada do século . Nessa época, o First NAtional Bank de Baker agia como aliado de Morgan, trazendo consigo o Chase National, o Bankers Trust Company , o National Bank of Commerce  e o Guarantee Trust, todos os quais eram controlados por meio da posse de ações. Em 1904 Baker fazia grandes compras de títulos indigestos de Morgan , e quatro anos mais tarde organizava o First Securities Company, declarando um dividendo de 100% para os donos dos papéis do First National. Essa filiada seguradora continuou absorvendo as emissões feitas por Morgan até a era do New Deal, quando tais práticas foram banidas pela lei.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 36

Embora de nenhum modo fosse típica, a carreira E. H. Harriman, o magnata das ferrovias que veio a ombrear com o Grande Morgan , oferece exemplo do mito precedente. Harriman fora um menino pobre e magricela criado em Hempstead, Long Island. Com quatorze anos de idade conseguira empregar-se como  corredor nos escritórios do corretor  D, C. Hayes, recebendo cinco dólares semanais. Depois de algum tempo fora promovido a auxiliar  e começara aprender os truques de Wall Street. Harriman fora esperto o bastante para antever a chegada  da Sexta-Feira Negra com algum tempo de antecedência, e vendera a descoberto, fazendo  pequena fortuna logo de cara.  Utilizou o dinheiro para comprar uma cadeira na Bolsa e financiar sua carreira inicial como aventureiro em Wall Street. A essa altura, em 1871 , Harriman tinha apenas vinte e um anos . Ajudara um irmão a obter emprego nos escritórios de Lawrence Jerome, e outro a iniciar atividades no campo imobiliário.  Harriman sempre preferia rapazes sem instrução em seus escritórios, e raramente confiava em quem possuísse educação de nível superior. Certo homem de negócios demonstrou  alívio quando viu o filho reprovado nos exames vestibulares para a universidade. ''Sempre que vejo um homem rico morrendo e deixando grande quantidade de dinheiro para fundar uma universidade '' disse ele '' digo a mim mesmo que é uma pena ele não ter morrido enquanto ainda era pobre ''. Na realidade, o menino pobre geralmente podia contar com o lugar de despachante, se trabalhasse bem , e a teoria falava em gente que de trapos passava à ter fortunas imensas ----- ainda que a prática concreta fosse, na verdade, de fortunas  que passavam para fortunas maiores.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 35

O candidato a banqueiro de investimentos era aconselhado a iniciar como corretor e ir subindo ---- isto é, eram aconselhados por líderes no setor bancário e de corretagens, que com frequência haviam já nascido nas posições por eles ocupadas. A filosofia semi-oficial do mundo norte-americano dos negócios  já era uma espécie bem aceita de ''darwinismo social '', no sentido de que a combinação de calvinismo de estilo antigo e a nova biologia de Darwin e seus seguidores sustentava que na luta pela existência em todos os níveis sobreviveria o mais apto. Corolário disso era a crença de que a educação, antecedentes e ligações mostravam-se destituídas de importância quando em comparação com o vigor inato. Esse aspecto ajustava-se, certamente, tbm às afirmação básicas da democracia, como entendida por muitos intelectuais após a Guerra Civil. A noção de que os EStados Unidos da América eram uma terra de oportunidades, onde até um trabalhador braçal ferroviário poderia chegar à Presidência da República,, fazia parte do credo nacional. Tal sentimento era disseminado pela grande popularidade encontrada pelos livros de Horatio Alger naquele período e no subsequente, Tudo parecia combinar-se para levar os banqueiros e corretores a preferirem jovens muito inteligentes e animados, recém-saídos de fazendas, aos intelectuais preparados pela  universidade que chegavam  à Wall Street . Como afirmava certo autor na época : ''Do ponto de vista dos negócios a acusação feita contra a faculdade norte-americana em geral era a de que esta retardava o início na vida comercial, ensinando um monte de coisas inúteis e conferindo a seus estudantes hábitos maus e atitudes desprezíveis, o pior dos quais era '' o desejo de viverem apenas de suas inteligências, ao invés de trabalharem como todos''. Esse preconceito, obviamente anti-intelectual, não iria desaparecer da cena senão depois da primeira Guerra Mundial, e mesmo em nossos dias pode ser encontrado em certas partes daquele centro financeiro opiniões semelhantes. E isso, a despeito da afirmação feita por diversos dos mais influentes homens de negócios do país, de que eles eram ''todos a favor da educação e da cultura mental, pois... PODE ALGUÉM DUVIDAR DISSO ATUALMENTE ???? ''

K.M.

domingo, 23 de abril de 2017

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 34

Outro grupo de instituições era formado de firmas de corretagem que se voltaram para o setor de bancos de investimentos depois da Guerra Civil  . Nessa categoria estavam Fahnestock and Co. , Charles D. Barney and Co.  , Fisk and Hatch and Marquand and Dimock.  Alguns entraram no setor de bancos de investimentos como extensão lógica de seus negócios de corretagem ou passaram a considerá-la coisa secundária quando comparada ao negócio bem mais perigoso de comprar e vender títulos em grande quantidade.  Juntamente com ex-estabelecimentos bancários e mercantis, formaram um grupo agressivo que via suas funções principais como a racionalização da economia, o controle das empresas individuais e, para alguns, a tapeação do público mediante os lançamentos de títulos inflacionados. Exemplo típico desse último caso foi Henry S. Ives and Co. , que só se apoderava de uma estrada-de-ferro para assaltar-lhe os cofres. Parte dos fundos ilegalmente obtidos seria transferida para a conta pessoal de Ives, enquanto o restante era utilizado para permitir-lhe assumir o controle de uma outro estrada-de-ferro, maior ainda. Ives levou a efeito diversas medidas desse tipo, mas fracassou na tentativa de de incursionar pela Baltimore and Ohio. Firmas como DRexel , Morgan e Kuhn e Loeb, embora muitas vezes agissem sem escrúpulos, eram honestas e sinceramente acreditavam em que estavam servindo à nação e ao público, bem como a si próprias. 

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 33

A dinastia de Kuhn e Loeb já foi chamada de ''Os Rothschilds norte-americanos '' devido ao seu poder e grande número de casamentos efetuados entre seus componentes. Otto Kahn, que veio a suceder Schiff, ingressou na firma casando-se com com Addie Wolf, a filha de um antigo sócio ; Paul M. Warburg, um corretor judeu-alemão , casou-se com Nina J. Loeb. Seu irmão, Felix M. , atravessou o Atlântico e casou-se com Frieda Schiff. O casamento, além disso, ligavaa família a Thomas Fortune Ryan, o pitoresco magnata e inimigo de J.P.Morgan, e a George F. Baker, presidente do First National Bank, e braço direito de Morgan . Voltando no tempo, nos primeiros  anos seguintes à 1880 havia aproximadamente duas dúzias de organizações subscritoras em Wall Street. Suas origens eram variadas.Algumas, como Drexel , Morgan e Kuhn-Loeb, tinham começado como estabelecimentos mercantis J and W Seligman, que tinha escritórios em Nova York e San Francisco , Nova Orleans, Londres , Paris e Frankfurt, cada qual presidido por um dos oito irmãos da família Seligman , começara como casa comercial. James Stillman, que como diretor do National City Bank estava envolvido em muitas importantes decisões de investimento, iniciara sua carreira como vendedor de algodão. Levi Morton m qye mais tarde se tornaria Vice-Presidente no governo Harrison era tbm um banqueiro de investimentos. Kidder , Peabody and Co., casa destacada que fora a primeira a subscrever emissões da American Telephone and Telegraph, apresentava origem mercantil, bem como muitas outras organizações de investimento. Outros subscritores tiveram seu início como bancos particulares e companhias de administração comercial , e somente mais tarde entraram na venda de títulos. O Lehman Brothers tinha começado como ''banqueiros de algodão '' antes da Guerra Civil e depoiis disso se destacara como casa de investimentos. Marcus Goldman e Samuel Sachs formaram sociedade em 1882. Sachs possuía ligações bancárias. enquanto Goldman se encontrava no setor de papéis comerciais. A nova firma prosseguiu com os papéis e somente mais tarde é que Goldman Sachs and Co  se voltou  para a subscrição. Nos anos seguintes à 1880 a firma especializou-se na compra de notas de curto prazo a pequenas organizações comerciais locais, formando assim capital e experiência que seriam utilizadas no curso de todo o século XX. 

K.M.

sábado, 22 de abril de 2017

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 32

A 14 de maio de 1904 o Supremo Tribunal ordenou a dissolução da Northern Securities, decisão que levou a um declínio rápido na Bolsa, fazendo um vento frio perpassar as casas de investimentos e dando a Roosevelt a reputação de destruidor de trustes. Morgan fora detido pela primeira vez e diversamente do episódio com a Northern Pacific em 1901, não tinham havido divergências a sanar por acordo do Tribunal. Mas Morgan parecia compreender que Rockefeller não era tão contra os negócios quanto se pensava na época. Afinal de contas, o ex-Secretário de EStado Elihu Root defendera os interesses de Morgan perante o Tribunal, e nenhum dos acusados fora mandado à cadeia.  Roosevelt muitas vezes manifestava suas convicções capitalistas e sua aprovação para com os ''BONS TRUSTES '' , mas o publico preferia pensar nele como inimigo número 1 do BIG BUSINESS.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 31

Em 1905 James Hazen Hyde, o filho fundador da Equitable Life Assurance Scoiety, era removido de sua presidência por um grupo de financistas e capitalistas encabeçados por Hill  e Frick. Hyde vendeu suas ações na Equitable ---- 502 das 1000 admitidas ---- a Thomas Fortune Ryan. Harriman procurou Ryan e lhe disse que seus amigos em Albany investigariam a transação, a menos que metade das ações lhes fossem vendias. E Ryan capitulou . A situação da Equitable interessou a diretores do New York World, que no passado fora controlado pelo grupo de Ryan  e ainda se mostrava simpático ao magnata das locomotivas . Exigiram uma investigação para verificar se o grupo de Harriman  incorrera em alguma infração, e o clamor criado pelo World logo encontrou ressonância nos demais jornais, pelo que na parte final do ano foi designada a Comissão Armstrong para investigar toda a indústria securitária em Nova York. Seu jovem e competente presidente, Charles Evans  Hughes, prontamente descobriu que muitas companhias encontravam-se sob controle direto ou indireto dos banqueiros de investimentos. Morgan dominava a New York Life Insurance Company , e a lotara com perto de 150 milhões de dólares em títulos. Casos semelhantes ocorriam com a Mutual Life, firma dos Rockefellers, e com a Equitable , controlada pelo grupo Ryan-Harriman . O ativo da Mutual, por exemplo , era de U$ 500 milhões  em 1906, e 57% dos mesmos encontravam-se  em títulos, comparados a 11,3% em 1871 .  Desse total , 41 % eram em ferrovias dos Rockefellers .  As mesmas situações existiam nas outras ''companhias cativas '', que apresentavam os mais baixos registros na indústria, principalmente por causa de sua violação pelas casas de investimentos. Os diretores foram dados como responsáveis por esses lamentáveis acontecimentos, e a diretoria da Equitable incluía Hill , Frick , Schiff , Harriman, os diretores da Mutual eram encabeçados por Baker , Rogers, William Rockefeller e Speyer. O quadro de diretores da New  York Life  continha Stillman, e aturma do National City , bem como seu presidente Johnv A. MCCall, enfileirava-se com Baker, Hill e Morgan como um dos homens mais influentes de Wall Street.  Assim era que um complexo de bancos de investimento e transações comerciais, juntamente com as companhias de seguros de vida e truste constituíam um poder com recursos suficientes para controlar o Mercado em quase qualquer circunstância, e por algum tempo pôde deter as manobras  do público caprichoso. Esse TRUSTE DO DINHEIRO  constituiu causa de muito alarme nos círculos Progressistas, tornando-se o alvo dos reformadores do período 1903-1914. Apoiados por agricultores prósperos , intelectuais da classe-média e homens de negócios, bem como pelas aristocráticas famílias da parte oriental do país,  os Progressistas desfecharam um ataque a Wall Street que rivalizava em intensidade cm o desferido pelo New Deal uma geração depois.

K.M.

O guerreiro feliz.

Os Roosevelt encontravam-se instalados há sete respeitáveis gerações na ilha de Manhattan; eram senhores de uma grande mansão de tijolos na Twentieth Street, de uma propriedade rústica em Dobbs Ferry, de centenas de terrenos no centro da cidade, de um banco na Igreja Reformada Holandesa, de muitos rendimentos, de muitas ações e muitas obrigações; sentiam que Manhattan lhes pertencia e que a América lhes pertencia e que. Seu filho
Theodore
era um rapazinho débil, sofria de asma e enxergava mal; tinha mãos e pés excessivamente pequenos, o que lhe dificultava a prática do pugilismo; os seus braços eram demasiadamente curtos;
seu pai era uma espécie de filantropo, oferecia consoadas aos ardinas, deplorava o baixo nível de vida, os bairros de lata, o East Side e a Sopa dos Pobres.
O jovem Theodore tinha potros, animavam-no a fazer corta-mato,campismo, aprendia pugilismo e esgrima ---- um cavalheiro americano devia ser capaz de se defender sozinho ----, ensinava catequese, praticava a caridade ---- um cavalheiro americano deve fazer tudo que esteja ao seu alcance para dar a mão aos menos favorecidos pela sorte;
era respeitável por direito de nascimento
sentia-se profundamente atraído pelo estudo das ciências naturais, por ler obras sobre pássaros e animais selvagens, pela caça; conseguiu ser um bom atirador a despeito dos óculos, um bom andarilho a despeito dos pés frágeis e das pernas curtas, um excelente cavaleiro e um pugilista combativo a despeito dos braços curtos, um político bem sucedido a despeito de ser filho de uma das mais ricas famílias holandesas de Nova York.
Em 1876, quando foi para Cambridge, a fim de estudar em Harvard, era um jovem rico, tagarela, eclético, de bigodes compridos e idéias assentes sobre tudo o que existia debaixo do Sol;
em Harvard conduzia um dogcart, colecionava pássaros embalsamados e embalsamava por suas próprias mãos os exemplares que abatera nas suas excursões pelos Adirondacks; embora não bebesse e tivesse qualquer coisa de apóstolo, com idéias bizarras sobre a Reforma e a terapêutica dos costumes, frequentou o Porcellian e o Dickey e todos os clubes cujo acesso lhe era facultado de direito por ser filho de uma das mais ricas famílias holandesas de Nova York.
Declarou aos amigos que ia consagrar a vida ao serviço social:
----- Quero pregar a doutrina não da facilidade ignóbil, mas a da vida esforçada, da vida de labuta e de pugna, de trabalho e de porfia(.) -----,
Desde os onze anos de idade que escrevia copiosamente, preenchendo diários, livros de notas, folhas soltas, com garatujas impulsivas, anotando tudo o que fazia, pensava e dizia;
como é natural, estudou Direito.
Casou jovem e foi para a Suiça a fim de escalar o Matterhorn; a morte prematura da sua primeira mulher deixou-lhe o coração despedaçado. Partiu para as terras insalubres do Dakota Ocidental para se tornar rancheiro nas margens do pequeno Missouri;
quando regressou a Manhattan, era o Teddy, o atirador instintivo do Oeste, o caçador de alces, o homem de chapéu de cowboy que laçava novilhos, que lutara corpo a corpo contra o grande urso cinzento e que atuara como ajudante de xerife.
(um Roosevelt tem deveres para com o seu país; o dever de um Roosevelt é ajudar a sair do atoleiro os menos favorecidos pela fortuna, os que desembarcaram a menos tempo nas praias americanas e se foderam logo de cara);
no Oeste, o ajudante de xerife Roosevelt sentiu o peso do fardo do homem branco, ajudou a prender malfeitores, malvados, perigosos; serviço duro.
Enquanto fazia isso, continuava a escrever, inundando revistas com as histórias de suas caçadas e das suas aventuras, inundando os comícios políticos com as suas opiniões, as suas acusações, as suas frases favoritas:
----- Vida Esforçada, Idéias Viáveis, Governo Justo (: quando os homens receiam o trabalho ou a guerra justa, quando as mulheres receiam a maternidade, encontram-se a vacilar à beira do abismo, e bom será que sejam varridos da terra onde só são dignos do desprezo de todos os homens e de todas as mulheres cujo lema é a força, a coragem e um ideal elevado (.) -----,
T.R. casou com uma mulher rica e criou honradamente uma família em Sagamore Hill.
Foi eleito para um mandato no Parlamento de Nova York e foi nomeado por Crober Cleveland para o cargo não remunerado de comissário da reforma dos serviços públicos,
foi comissário da reforma da polícia de NovaYork, perseguiu malfeitores malvados perigosos e defendeu implacavelmente a tese de que o homem branco era branco e o homem preto era preto
escreveu a história das operações navais da guerra de 1812
foi nomeado subsecretário da Armada.
e quando o Maine foi pelos ares demitiu-se para ir comandar os Rough Riders (corpo voluntário de cavalaria)
Tenente-coronel
Foi o seu Rubicão, a Guerra, a Velha Bandeira, a Causa Justa. O público americano era posto ao corrente da bravura do coronel quando as balas assobiavam, de como escalara sozinho a colina de San Juan e tivera que voltar atrás para obrigar os seus homens a segui-lo, de como abatera um espanhol em fuga com um tiro no rabo.
Era pena que nessa altura as forças regulares já tivessem tomado San Juan pela outra vertente, o que tornava completamente supérfluo voltar a conquistar o que conquistado já estava. Santiago rendera-se. Tinha sido uma campanha toda cheia de vitórias. T.Roosevelt, ao escalar a colina de San Juan escalou também o posto de governador de Nova York;
mas terminados os combates, voluntários, correspondentes de guerra, redatores de revistas, começaram a querer regressar aos Estados Unidos;
não sentiam o menor entusiasmo pela idéia de se amontoarem debaixo das tendas enquanto desabavam os aguaceiros tropicais ou de ficarem grelhados pelo sol matinal das colinas ressequidas de Cuba com a malária a ceifá-los e a desinteria, para não falar na febre-amarela sempre tão temida
T.R. enviou uma roundrobin ao presidente pedindo que os guerreiros amadores fossem mandados regressar à Pátria, deixando o trabalho sujo a cargo dos soldados do quadro permanente
que abriam tricheiras e drenos para as imundícies e lutavam contra a malária, a desinteria e a febre amarela
a fim de tornar Cuba madura para os magnatas americanos do açúcar
e para o National City Bank.
Quando chegou à pátria, um dos seus primeiros encontros foi com Lemuel Quigg, emissário de Boss Platt que tinha os votos dos eleitores da zona rural de Nova York todos metidos no bolso
avistou-se também com Boss Platt, mas mais tarde esqueceu esse fato. O seu lema era a audácia. Escreveu uma ''vida de Oliver Cromwell'' e o público encontrava semelhanças entre o biógrafo e o biografado. Como governador, traiu a máquina eleitoral de Platt (um homem respeitável pode sofrer lapsos de memória); Boss Platt pensou que o havia arrumado quando o nomeou, em 1900, para a vice-presidência dos Estados Unidos:
Czolgocz (assassino do presidente McKinley) fez dele presidente.
T.Roosevelt partiu a toda brida numa carruagem pelas estradas enlameadas batidas pela chuva fustigante de Monte Marcy, nos Adirondacks, para apanhar o trem Buffalo onde McKinley agonizava.
Como presidente
mudou Sagamore Hill , aquele lar americano feliz, rico e normal, para a Casa Branca, levou a passear diplomatas estrangeiros e anafados oficiais do Exército por Rock Creek Park, onde os precedia numa dança horripilante por entre os espinheiros, atravessando correntes aos saltos, de laje em laje, vadeando ribeiros, escalando as margens de terra barrenta e escorregadia.
E brandiu o Grande Cacetete contra os malfeitores poderosos.
O seu lema era a audácia.
Maquinou a revolução do Panamá, a cuja sombra se realizou a famosa manigância de fundir as duas companhias do canal, a antiga e a nova, operação essa que atirou com quarenta milhões de dólares para os cofres dos banqueiros internacionais
Mas a velha bandeira flutuava sobre a Zona do Canal e o canal estava aberto entre os dois oceanos.
Arruinou alguns trusts,
recebeu Booker Washington e ofereceu-lhe um almoço na Casa Branca,
e protegeu a conservação das espécies selvagens.
Foi galardoado com o Prêmio Nobel da Paz por ter alinhavado o Tratado de Portsmouth, que pôs cobro à guerra russo-japonesa,
e mandou a Armada americana dar a volta ao mundo para que todos vissem que a América era um potência de primeira classe. Transmitiu a presidência a Taft, depois de cumprir seggundo mandato, deixando a esse elefantino advogado a tarefa adequada à sua personalidade de derramar óleo judicial nas nódoas negras dos grandes capitalistas.
E foi para a África matar caça grossa.
Para matar caça grossa era preciso audácia.
De cada vez que um leão ou um elefante desabavam sobre o matagal rasteiro da selva, atingidos por uma bala explosiva bem apontada
acendiam-se as parangonas dos jornais;
quando conversou com o Kaiser, cada um montado no seu cavalo
o mundo teve conhecimento das suas palavras, o mesmo sucedendo quando foi arengar aos nacionalistas do Cairo dizendo-lhes que este mundo pertencia ao homem branco.
Visitou o Brasil, onde viajou no Mato Grosso, atravessando numa piroga as águas infestadas por minúsculos peixinhos antropófagos, as piranhas.
Matou a tiro antas,
onças-pintadas
e alguns exemplares de porcos selvagens de lábios brancos.
Percorreu os rápidos do Rio da Dúvida
descendo para as fronteiras do Amazonas, aonde chegou doente, com um abscesso infectado na perna, estendido debaixo de um toldo, numa piroga, com um trombeteiro domesticado a fazer-lhe companhia.
De regresso aos Estados Unidos, travou seu último combate quando se apresentou como candidato à nomeação pela ala progressista do partido republicano, campeão da Partilha Justa,cruzado do homem do povo; o Alce Macho fugiu debaixo do cilindro compressor de Taft e formou no Anfiteatro de Chicago o Partido Progressista para preservação dos valores morais enquanto os delegados que iam restaurar o governo do povo se embalavam com lágrimas nos olhos ao mesmo tempo que cantavam:
''AVANTE, SOLDADOS DE CRISTO
''MARCHEMOS COMO SE FÔSSEMOS PARA A GUERRA''.
Talvez o Rio da Dúvida tivesse sido demaisado para um homem da sua idade, talvez já não possuísse a mesma velha audácia; T.R. decaiu no decorrer da campanha. Em Duluth, um maníaco desfechou-lhe um tiro no peito, salvando-o a vida o grosso rolo manuscrito do discurso que ia proferir. T.Roosevelt proferiu o discurso mesmo antes de lhe extraírem a bala, escutou os aplausos comovidos e tímidos, sentiu que os pequenos do Pai rezavam pela sua melhora...
mas o velho encanto tinha-se quebrado.
Os Democratos levaram tudo de vencida, a Grande Guerra eclodiu e o rugido das explosões de lidite abafaram a voz do Guerreiro Feliz.
Wilson não consentiu que T. Roosevelt comandasse uma divisão, não era uma guerra de amadores ( talvez a gente do quadro permanente ainda se recordasse da ''roundrobin'' de Santiago). Tudo quanto podia fazer era escrever artigos nas revistas contra os Alemães e mandar os filhos; Quentin foi morto.
Não, aquilo já não era uma guerra de amadores audazes. Ninguém soube que, no Dia do Armistíscio, Theodore Roosevelt, feliz guerreiro amador que sorria mostrando os dentes, que tinha o hábito professoral de sacudir o indicador, naturalista, explorador, publicista,catequista, marcador de gado, moralista, político, orador respeitável mas de fraca memória, deleitando-se em acusar gatunos ---- o Clube Ananias ----- e em travar com os filhos batalhas de travesseiros, tinha sido conduzido ao Roosevelt Hospital gravemente doente com reumatismo infeccioso.
A audácia já não lhe servia de nada;
Mas T.R. tinha garra;
suportou a obscuridade, a noção de ter sido esquecido tal como suportara os impérvidos escaldantes quando explorava o Rio da Dúvida, o calor, o odor pútrido da selva, abscesso infectado na perna,
e finou-se suavemente no sono
em Sagamore Hill.


K.M.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 30

Embora aquelas práticas não fossem legais no sentido rigoroso da  palavra , rodeava  o espírito da lei e foi chamada por um autor de ''a obra-prima do bom-humor legal ''. Em 1912 as posses de títulos de todos os bancos nacionais ascendera a 9,45% de seus ativos, em comparação com 0,59% de 1863. Dois anos mais tarde C. W. Barron calculava que dois-terços dos ativos dos bancos comerciais achavam-se investidos em títulos, e apenas um terço estava sendo utilizado  em transações comerciais, tornando-se assim ''importantes instituições do capitalismo de títulos desenvolvido ''.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 29

O National City Bank de James Stillman seguiu um rumo semelhante. Sempre presente no negócio de seguros, subscreveu a Amalgamated Copper para os Rockefellers em 1899, e mais tarde lançara títulos para a Armour and Company e outras. Após 1903 entrou ainda mais no terreno de títulos, trabalhando às vezes com Morgan e de outras com os Rockefellers. Sendo uma potência por si mesmo somente Stillman, entre todos os banqueiros comerciais, poderia agir desse modo, por ter recursos necessários para isso. Em 1911, formava a National City Company, pagando um dividendo de 40% por ação aos donos da mesma. Como o First Securities Company, a organização de Stilllman agia como compradora de ações indigeridas, o que geralmente fazia de Kuhn, Loeb, dos Rockefellers e  dos herdeiros de Harriman.Essas filiadas muitas vezes compravam ações proibidas aos bancos pela lei, agindo como influência especulativa em Wall Street ---- e, obviamente, jogando com o dinheiro dos depositantes.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 28

Os bancos comerciais sempre tinham feito investimentos em títulos, mas não se tornaram agentes de investimentos importantes senão na virada do século . Nessa´´epoca, o First National  Bank de Baker agia como aliado de Morgan, trazendo consigo o Chase National, o Bankers TRust Company, o National  Bank of Commerce e o Guarantee Trust , todos os quais eram controlados por meio da posse de ações .  Em 1904 Baker fazia grandes compras  de títulos indigestos de Morgan ,  e quatro anos mais tarde  organizava a First Securities Company, declarando um dividendo de 100% para os donos dos papéis do First National. Essa filiada seguradora continuou absorvendo as emissões feitas por Morgan  até a era do Nea Deal, quando tais práticas foram banidas pela lei.

K.M. 

Post Scriptum 

Depois de 1903 os banqueiros  consolidaram suas posições, sobretudo os de investimentos, e destruíram a competição e expandiram-se para novos terrenos. Os gigantes não estavam sedentos de poder e , ao invés disso, sua expansão constituía parte necessária do quadro de investimentos do período. Os imensos combinados  formados por Morgan, Schiff e outros encontravam-se apoiados na capacidade do mercado de absorver novos títulos. 

K.M.








MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 27

Embora parecesse mais um bobo da corte do que um soberano, Gates ''Aposto-Um-Milhão'' era um dos líderes da Rua.  Foi  a uma viagem de férias e negócios na Europa , em 1902 , e voltou bem a tempo para o pânico de 1903 . ''Estou surpreendido com o estado do mercado de valores '', declarou aos repórteres que o foram receber a bordo. ---- Não é coisa natural. As causas são puramente artificiais, e estão apoiadas numa base falsa (.) Não acredito qu tenha jamais existido uma época melhor para se investir em títulos razoáveis. Voltei disposto à luta e vou entrar em Wall Street . Assim, ele mergulhou imediatamente no mercado, formando um sindicato para comprar as ações que achava estarem abaixo de seu justo preço. Ainda assim , o mercado entrou em colapso na primavera e e caiu pesadamente no início do verão. Esse pânico , que foi chamado ''O Pânico dos Homens Ricos '', terminou no final de agosto, e J.P. Morgan,regressando de sua expedição anual pela Europa, à cata de objetos de arte , ajudou muito a restaurar  a confiança. Em outubro, os preços estavam subindo . O pânico dos homens ricos fora breve interlúdio no mercado altista, e não teve grande importância. A classe superior , os elementos de dentro , sofreu em 1903, e não os pequenos investidores. No início do ano eles haviam entrado numa ''greve de compradores '', achando que os preços estavam altos demais.  Venderam no início da primavera ---- juntamente com os astutos dirigentes do Império da Standard Oil ---- enquanto Gates e a maioria dos profissionais faziam compras. Foi o primeiro exemplo do novo poder conquistado pelo pequeno investidor, poder esse que não seria inteiramente reconhecido pelos elementos de Wall Street,gente em geral sensível , senão depois de uma geração.

K.M.

PRÁXIS COTIDIANA NÃO DEFORMADORA

Tudo se passa como se nos movimentos contrários  às unilateralizações radicais  , os momentos diferenciados da razão quisessem remeter de novo a uma unidade. Uma unidade, contudo , que só pode ser reconquistada aquém das culturas de especialistas, em uma PRÁXIS COTIDIANA NÃO DEFORMADORA . A c´ritica da razão instrumental se depara com uma situação de recepção aguda notável até hoje: com ''expectativas de finais dos tempos '' e outros tantos medos presentes em muitíssimos movimentos, a construção proposta por mim conta com uma integridade dialética entre entre o mercado e os ''outros agentes'' que impressiona, pelo menos na medida em que se mostra capaz de constituir determinadas formas e mecanismos estruturais marcados pela racionalidade. Bem concretamente e não querendo ser filosófico : creio que existem ainda mecanismos de autonomização institucional precisando ser ativados, simplesmente devido a uma determinada ''grandeza'' , devido a uma centralização excessiva, ao desacoplamento ou ao ofuscamento das possibilidades de ''reacoplamento '' (ao menos  dialético) que coloca em marcha uma espécie de ''maquinaria descontrolada '', que muitas vezes projetam medos inexistentes na tela do inconsciente coletivo : aqueles ''riscos inteiramente novos '' e o que E. P. Thompson chamou de ''exterminismo'', como lógica de ''auto-extinção pós-moderna, entram nessa lógica duvidosa de calcular os obstáculos do caminho.

K.M.

MORGAIZAÇÃO DA AMÉRICA 27

Em fevereiro de 1902, o Procurador Geral Philander Knox deu entrada com uma ação anti-truste contra a Northern Securities, por ele atacada como ''virtual consolidação de duas linhas transcontinentais competidoras ''. A notícia foi observada, mas não a consideraram importante em Wall Street. A 10 de abril de 1903, um tribunal de circuito resolveu a favor do governo , e um curto pânico atingiu aquela rua. Morgan retardou suas férias na Europa por uma semana, de modo a endireitar as coisas. O truste fez seu apelo à Suprema Corte, no entanto , e  centro financeiro , inclusive os analistas do NYT e Tribune esperavam que a decisão judicial fosse revogada. A 22 de abril , alguns dias depoi s da decisão do tribunal inferior, a Bolsa anunciava que seu novo edifício estava pronto para instalação. O dia era ensolarado, e o s corretores se reuniram na parte externa da nova construção ---- que é a Bolsa atual ----- para aclamar os funcionários e diretores da organização. Morgan, o Presidente da Bolsa que era Keppler , o Prefeito Seth Low e outros fizeram discursos para aquele grupo alegre. Henry Clews , que a essa altura era um patriarca, descreveu as novas instalações : ''O edifício da Bolsa de Valores é uma estrutura bonita e sólida, destituída de qualquer traço ostentatório, pretensioso ou decorativo . Foi desenhada por James Renwick , o arquiteto da ''Grace Church '' e da CAtedral CAtólica de São Patrício , na Quinta Avenida e Rua 50. O custo do edifício foi quase U$ 2.000.000 . Custa perto de U$ 200.000 anuais afolha de pagamentos dos funcionários e a manutenção do edifício em bom estado. A aparelhagem de ventilação é uma das melhores !!!!! Custou U$ 30.0000 e fornece uma abundância de ar puro e perfumes, ao mesmo tempo.  As instalações de aquecimento e resfriamento  são as melhores do seu tipo, SEM DÚVIDA !!! , e a iluminação é simplesmente ADMIRÁVEL !!!! , Há três candelabros com 200 lâmpadas elétricas que iluminam todo o interior com luz bela e suave. O edifício está bem dotado de salas para os membros, lavatórios e banheiros, e contém mais de mil cofres para guarda de títulos. Perto de 400 desses cofres ficam para pessoas que não são membros da Bolsa. Os cofres maiores e menores são considerados OS MAIS FORTES DO MUNDO !!!! ''


K.M.

Ótimo de Pareto.

Felizmente, os aspectos irracionais contraditórios da personalidade de Vilfredo Pareto não interferiram com suas excepcionais capacidades analíticas... Uma olhada de relance em qualquer dicionário de economia revelará muitos conceitos econômicos duradouros que levam seu nome. A noção do ''ÓTIMO DE PARETO '' foi claramente desenvolvida a partir do equilíbrio geral walrasiano . Partindo de princípios básicos, Pareto observou que duas pessoas só negociarão livremente entre si se ambas ganharem alguma coisa em troca. Se uma só pode ganhar e a outra perder, o negócio não será feito.  O ótimo de Pareto é alcançado quando uma situação econômica geral é tal (digamos, de equilíbrio economico geral ) que é impossível melhorar a condição de uma pessoa sem piorar a de outra.  O ótimo de Pareto descreve uma situação de completa eficiência econômica : nenhum melhoramento global é possível. Ele foi tbm traduzido em termos sociais , referindo-se ao uso ótimo dos recursos de uma sociedade.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DAAMÉRICA 25

O mercado monetário estava sobrecarregado, pois a procura de capital ultrapassava até mesmo as ofertas crescentes de 1902. Algumas das novas fusões pareciam abaladas e tornou-se difícil lançar diversas emissões . A situação era considerada temporária pelo grupo Morgan , e J. P. deu às emissões não-subscritas o nome de''títulos indigestos '' . Hill, compreendendo que o mercado estava correndo à frente da economia, mostrou-se mais realista e as chamou  ''títulos indigeríveis ''. Outro motivo de preocupações dizia respeito ao novo Presidente dos EStados Unidos,Theodore Roosevelt, que tomou posse quando McKinley foi assassinado em setembro de 1901. Embora Roosevelt fosse um homem dado a declarações polêmicas , suas providências nos primeiros meses de presidência mostraram-se conservadoras o bastante e  o mundo dos negócios achou que podia contar com ele para proteger seus interesses . 

K.M.

Havia dificuldades, no entanto...


MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 24

------ Quem fez o mundo , Charles (??) ----

------ Deus fez o mundo no ano 4004 A.C., mas ele foi reorganizado em 1901 por James J. Hill, J. Pierpoint Morgan e John D. Rockefeller (.) ----

O mercado continuou subindo durante a maior parte de 1902 . O movimento de ações atingiu  207%, perdendo apenas para o ano anterior em atividade. Mais de um bilhão de dólares em novos títulos foram registrados na Bolsa, muitos vindos daquelas companhias que se haviam fundido em 1901. Os movimentos de consolidação e fusão começaram a diminuir, porém , e o segundo trimestre do ano foi o único nos três últimos anos em que menos de 100 firmas desapareceram. A média das ferrovias atingiu nova marca,que foi o ápice do ''mercado taurino ''. além disso, as condições de negócios continuaram boas, e a produção continuaria a crescer intensamente na primeira metade de 1903.

K.M.

MORGANIZAÇÃO DA AMÉRICA 23

Quando Morgan regressou da Europa em julho, presidiu uma reorganização da ferrovia, que dava a Harriman representação na diretoria da mesma, tendo tbm voz na Burlington, que constituía seu objetivo inicial. Aquela ferrovia comprometeu-se a não competir com a Union Pacific e aSouthern Pacific, e a permanecer neutra em qualquer futuro embate que se travasse entre Harriman-Schiff e Hill -Morgan . Pela primeira vez Morgan fora levado a um ''empate '', desde que adquirira o domínio sobre Wall Street, e Harriman conquistara uma reputação  de poderio financeiro à altura de sua fama como magnata ferroviário. Cada qual aprendera a respeitar o outro, ainda que sem muito apreço. Pouco depois disso formavam a Northern Securities Pacific Company , truste que incluía a Great Northern, a Northern Pacific e a Burlington . Quanto a Schiff, descansou alguns meses antes de retomar inteiramente suas atividades. Bacon aposentou-se em novembro daquele ano, sendo substituído por George W. Perkins.  O braço de direito de Morgan tivera suas recompensas em poder e dinheiro, mas a batalha o arrasara.  Harriman partiu em viagem pela Europa, depois de efetuada a compisção da Northern Securities e encontrou-se com muitas cabeças coradas daquele continente, com quem conferenciou em pé de igualdade. Contara falar com o Imperador Fracisco José, da Áustria, mas não o conseguiu, e compreendendo que os imperadores tinham muitas obrigações a atender, declarou : ------ Eu me encontro em posição de perceber a magnitude das tarefas do monarca ( . ) ------

K.M.

Resposta resoluta.

É natural que após um período de observação as empresas de uma economia que começa a recuperar-se hesitem um pouco em voltar a investir em função do impacto emocional da volatilidade e do que virá a acontecer amanhã. Mas, em pouco tempo, isto acaba se mostrando um equívoco, pois o excesso de cautela atrasa a resposta da companhia à dinâmica econômica real. Quando a economia volta a recuperar-se, muitas empresas que hesitaram acabam sendo superadas por concorrentes que optaram por práticas melhores e mais resolutas.

K.M.